Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa, compro um livro, entro no
amor como em casa.
de Ainda Não É O Fim Nem O Princípio Do Mundo Calma É Apenas Um Pouco Tarde(1974)”
com este post inicia-se a publicação de uma série de clips registados durante a vinda de manuel antónio pina à figueira da foz, nos primeiros meses de 2012.
momentos de conversa aberta que nos permitem conhecer o homem.
biografia:
Manuel António Pina (Sabugal, 18 de Novembro de 1943; Porto, 19 de Outubro de 2012) jornalista e escritor, galardoado em 2011 com o Prémio Camões.
O autor licenciou-se em Direito em Coimbra e foi jornalista do Jornal de Notícias durante três décadas. Nos últimos anos de vida foi cronista do Jornal de Notícias e da revista Notícias Magazine.
A sua obra é principalmente constituída por poesia e literatura infanto-juvenil. É ainda autor de peças de teatro e de obras de ficção e crónica. Algumas dessas obras foram adaptadas ao cinema e TV e editadas em disco.
A sua obra está traduzida em França (francês e corso), Estados Unidos, Espanha (espanhol, galego e catalão), Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Rússia, Croácia e Bulgária.”
poema:
“Café do Molhe
Perguntavas-me (ou talvez não tenhas sido tu, mas só a ti naquele tempo eu ouvia)
porquê a poesia, e não outra coisa qualquer: a filosofia, o futebol, alguma mulher? Eu não sabia
que a resposta estava numa certa estrofe de um certo poema de Frei Luis de Léon que Poe
(acho que era Poe) conhecia de cor, em castelhano e tudo. Porém se o soubesse
de pouco me teria então servido, ou de nada. Porque estavas inclinada de um modo tão perfeito
sobre a mesa e o meu coração batia tão infundadamente no teu peito sob a tua blusa acesa
que tudo o que soubesse não o saberia. Hoje sei: escrevo contra aquilo de que me lembro, essa tarde parada, por exemplo. “