contributos para a história da xávega, noutros blogs


concorde ou não com o que neles se escreve aí se encontram fotos minhas

1 – almada – costa da caparica (foto da praia de mira) – 2015

2 – ovar ( foto da praia de mira) – 2016

https://www.ovarnews.pt/arte-xavega-de-ovar-a-patrimonio-cultural-imaterial/

3 – ovar (foto da torreira) – 2016

4 – caxinas (fotos da torreira) – 2008

https://caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt/59218.html

5 – blog DD ( fotos da torreira e da praia de mira)

(se mais houver… hão-de aparecer)

crónicas da xávega (482)


o que é o quê

xávega, arte, artes ou arte-xávega, são formas diversas, e as correctas, para designar a mesma “arte de pesca”.

assim como, passer domesticus, pardal, pardal ladrão, pardal dos telhados, pardal da igreja, etc., são formas diversas de designar a mesma ave.

(praia da leirosa; 2019)

ir ao mar com o chico giesteira em 2006


em 2006 para além das companhas de pescadores da torreira – olá sam paio e maria de fátima – trabalhavam ao sul do molhe sul duas companhas de pescadores do furadouro : a companha do jacinto e a companha do pepolim. a primeira com o barco “srª da piedade” a segunda com “o jovem”.

a companha do jacinto só fez a safra de 2006, a do pepolim ainda por lá continua.

liderada pelo arrais chico giesteira, descendente de uma das famílias de arrais mais tradicionais do furadouro, o chico é um grande arrais, certamente o melhor arrais que até hoje conheci.

para acompanhar a faina tinha de esperar que viessem ao pão, à torreira, ao meio da manha e me dessem boleia de tractor até ao acampamento, onde almoçava com a companha.

um dia houve em que, de manhã, vendo o mar mais manso, disse ao chico: hoje vou ao mar.

quando o barco se preparava para partir desci até à borda de água e ao olhar para as ondas mudei de ideias e disse ao chico: afinal já não vou.

de sorriso nos lábios respondeu-me : eu já sabia, você só viu o mar lá de cima.

à tarde o mar acalmou um pouco e o chico deixou-me ir com eles.

é desse lanço que, sem a espectacularidade que de terra proporciona a largada e o arribar do barco, resultam os registos que seguem

(documento escrito em 2010)

como a corrente dominante na costa ocidental portuguesa é de norte, o barco de mar vai em direcção ao norte para que a rede venha trazida pela corrente até próximo do local de largada.

a distância a que é feito o lanço depende do comprimentos das “calas”, cordas que ligam a rede a terra.

as calas são duas:

o reçoeiro – cuja extremidade fica em terra

a mão de barca – que virá para terra com o barco de mar

neste registo é o reçoeiro que vai saindo do barco de mar à medida que nos vamos afastando da costa

por momentos estamos no meio do mar rodeados de silêncios e somos senhores do infinito.

existimos apenas, peixes outros que sobre as águas navegam.

única a sensação.

longe de tudo e tão perto de nada, o pescador é dono e senhor, por uma fracção de tempo, de um universo só seu: a liberdade.

é preciso ir ao mar para sentir que só a terra é falsa

lança-se o arinque do reçoeiro

as calas ligam à manga da rede no “calão”. aí se prendem os “arinques”, bóias que servem de referência quando se ala a rede para terra.

um alar bem feito traz em paralelo o arinque da mão de barca e o arinque do reçoeiro: ou seja a rede tem de vir paralela à costa, para que não o peixe não fuja.

nalgumas redes há ainda quem ponha uma bóia no meio do saco o “calime”.

o calão não é mais que um pau que se coloca no início da manga para a manter aberta, impedindo o peixe de fugir.

interessante é que calão era também o nome dado ao barco que, na xávega mediterrânica e algarvia, levava a rede.

mas falar de tudo isto era um romance

lento o movimento continua.

o saco desce ao mar onde, quem sabe, carapau.

a mão de barca começa a ser lançada ao mar

a manga da mão de barca é lançada ao mar.

a rede está toda na água

o arinque da manga da mão de barca é lançado ao mar.

segue-se agora a cala da mão de barca.

a rede está lançada. virá peixe?

ser pescador artesanal é “lavrar o mar”, como já foi escrito, e não saber da colheita feita a sementeira, acrescento eu.

agora sim, a rede está toda na água

dentro da barca
as mãos
sobrantes nunca
descansando
por vezes
atentas na corda

na outra mão
a de barca
que do barco mão é
quando no caminho
para terra
o segura
o ampara do embate
das ondas
do grito
do mar

as mãos
são
o homem
na raiz
das coisas
na fome
de vida
no amor
no sal
no sul
onde mãos
por mãos
esperam

outras mãos
calam a cala
e é de barca a mão
que as tange

assim na xávega
renascem
fortes e pujantes
ternas e amantes
as mãos
sobrantes nunca

há no pescador um misto de arte e esperança.

assim se faz a xávega

os movimentos repetem-se agora em sentido inverso.

de regresso é a mão de barca que zune

o motor no máximo. é preciso chegar rápido a terra, onde um tractor já começou a puxar o reçoeiro.

a ida ao mar está a chegar ao fim. a terra aproxima-se.

um homem cresceu entretanto

há quem olhe para os carros, outros para a marca da roupa, outros para os rostos …. outros devoram com os olhos o que não comem

todos buscam o mesmo: conhecer

eu olho para as mãos e sei que aqui, aqui, encontro tudo.

as mãos do pescadores são rudes, gretadas, feridas, mas extremamente limpas.

são mãos que o mar lava e areia esfrega.

são mãos de trabalho, mãos de homens e mulheres que trazem nelas a história de uma vida, de um amor, de uma guerra, de uma faina,….

de uma gana de ganhar a vida no mar

crónicas da xávega (357)


2005, murtas a labuta continua

antónio murta na bica da ré; torreira; 2005

em 2005 continuava a trabalhar na praia da torreira a companha dos murtas, com o barco olá sam paio.


dos irmãos zé e antónio murta. o antónio era mais o homem de mar e o zé o de terra. creio que é em 2005 que falece o antónio em naufrágio à beira praia.

era, e é, opinião minha, uma companha familiar – da propriedade à própria composição da companha.

para além dos arrais e donos, não posso deixar de me lembrar da marlene, filha do zé, que era a responsável pela “contabilidade” da companha, e do redeiro, ti caetano da mata.

crónicas a xávega (356)


2005 ano um

torreira; 2005

em 2005 aparece na praia da torreira um barco “novo”. o m. fátima de marco silva, regressado do luxemburgo.


o barco pertencera ao arrais bolacha e chamava-se sra da aparecida.


faz-se ao mar com alfredo brandão (pirolito) como arrais de mar e o apoio em terra do experiente antónio trabalhito (barbeiro), entretanto falecido.


de costas, agarrado ao vertente, o estrela – que também já partiu para outro mares, mais distantes.

memória_14052011


mãos de pescador

KONICA MINOLTA DIGITAL CAMERA

torreira; 2006

há quem olhe para os carros, outros para a marca da roupa, outros para os rostos …. outros devoram com os olhos o que não comem
 
todos buscam o mesmo: conhecer
 
eu olho para as mãos e sei que aqui, aqui, encontro tudo.
 
as mãos do pescadores são rudes, gretadas, feridas, mas extremamente limpas.
 
são mãos que o mar lava e areia esfrega.
 
são mãos de trabalho, mãos de homens e mulheres que trazem nelas a história de uma vida, de um amor, de uma guerra, de uma faina,….
 
de uma gana de ganhar a vida no mar

memória_01042011


lurdes catelhana (canhoto)
KONICA MINOLTA DIGITAL CAMERA
todos os dias, de acordo com as instruções do arrais chico giesteira (chico de ovar), a companha faz as viagens de ida e volta: furadouro-torreira.
instalam-se ao sul do molhe sul, onde têm tudo o que é necessário para passar o dia: uma caixa térmica de uma carrinha, que serve de dispensa, um coberto que abriga uma mesa e equipamento de cozinha.
um depósito industrial de gasóleo para abastecer tractores e motores.
da companha fazem parte duas mulheres, que ajudam na escolha do peixe e cozinham para toda a companha. a organização imposta pelo arrais e voluntariamente aceite por todos, é a melhor que até hoje vi.
se há ainda lobos do mar, o chico é certamente um deles.
(companha do pepolim – do furadouro a trabalhar na praia da torreira; 2006)