o que sei
para os poetas sou fotógrafo para os fotógrafos sou poeta para os amigos sou o cravo essa é a única verdade
tem os olhos límpidos que lembram a ria quando ainda enguias havia será o moliceiro que mais anos carrega no barco. a casa dos pais do ti zé rebeço, ficava em frente à casa dos meus. era de lá que vinha o leite que bebíamos. tem os olhos límpidos "até os matamos, cravo" esta é a única mentira que lhe conheço mas é tão nossa que é verdade mais de 80 anos e um sorriso de criança no olhar o meu amigo ti zé rebeço
(torreira; são paio; 2010)
entre 2010 e 2021 foram muitos os moliceiros que desapareceram. os que de novo foram feitos não os superam.
não vou citar nomes de homens e barcos, mas seja o ti abílio, amigo do peito, mestre das artes do mar e da navegação – que já não tem moliceiro e por isso não estará presente na regata de hoje -, o símbolo do amor a estas aves tão belas a que deram, por arte e ofício, o nome de moliceiros
torreira; regata do são; 2010
eternidade breve
o assassínio do futuro condena-me a conjugar os verbos no passado se os nomeio folhas secas juncam o chão dos dias inscrevem nomes na memória povoam o silêncio estar vivo é saber da morte dos outros ser a sua eternidade breve outra não há
torreira; regata bateiras à vela; são paio; 2013
caminho andado
caminho descalço pelos dias de estar aqui olhos abertos como mãos em tempo de fruta madura caminho descalço dorido de tantos cacos pedras vidros pregos recuso o conforto da cegueira auto imposta felicidade falsa de luas inventadas doem-me os olhos de ser