pedem-me que cale
que não ligue
denunciar é dar palco
dizem e quedam-se
no seu saber calado
há a poesia a música
o cinema o futebol
há a cultura costas largas
há o que não nos divide
porque não é relevante
há o silêncio que consente
peço-lhes que falem
que digam o que pensam
se existem além do pensar
calados críticos de tudo
aí estarão no fim do caminho
limpos sorridentes e isentos
acabados de nascer e ainda
por lavar
partiram de bolsos vazios
e o país no coração
sonhavam uma vida melhor
uma casa a velhice diversa
foram dos primeiros e
voltaram
e no voltarem foram
os últimos
filhos e netos semearam
que outras raízes criaram
mais que uma bandeira
são um povo
orgulhoso das suas origens
é uma honra ter entre eles
tantos amigos
saber o valor
da palavra dada
dizer não com a convicção
que dizer sim
seria verdadeira negação
saber que os valores
não têm cotação na bolsa
se bem que pela sua venda
muitos encham o bolso
ser eu ainda
apesar de
venderás o peixe no mercado
aos fregueses fiéis
comprar-to-ão por comodidade
hábito e cansaço
às quintas montarás banca
na feira venderás coisas várias
outros caminharão à tua sombra
serás o chefe não o líder
nas terras piquenas é tão fácil
parecer grande
de incerteza se fazem estes dias
em que os sábios ignoram
e os ignorantes dão aulas de sapiência
tempo de bruxas dirás
de todos os santos dizem
dos defuntos fiéis ou não
que tudo incerto é
ser do mundo cidadão
é destino de quem nasce
em pobres terras
que mundo também o são
ah donos da terra
guardados os palmos
de terra na terra
de que donos vos dizeis
só essa vossa será
porém a ela fugis
porque de tão vossa
a não quereis
à terra o que da terra é
digo
terra que vos ofereço
para que seja toda vossa e nela
vós todos que donos sois
quereis a paz
aí a tereis