

de véspera
de véspera
fazer as malas
as despedidas
pôr o bacalhau de molho
de véspera
fazer a preparação
para o exame do dia seguinte
matar o perú
de véspera
a ansiedade porque
tentar dormir para
dizem de mim que cedo chego
de véspera
ninguém morre
ninguém nasce
de véspera
nem estas palavras
(praia de buarcos; 2016)
hoje sorrio
toda a geografia
é aqui
todo o tempo
é agora
ser é estar
intransitivamente
sou e estou
hoje sorrio
(estive com a minha neta mais nova, a marta de 2 meses, e isso é toda uma antologia)
o sábio
escuta o silêncio
lê na luz
estende as mãos à chuva
a verdade é-lhe estranha
aceita
a procura de
sempre
o sábio
sabe que não sabe
dorme por fora apenas
por dentro
no silêncio da sombra iluminada
tudo nasce e existe
o sábio
sabe ser agora
é essa a sua única sabedoria
se lhe perguntares
o que sabe
está de passagem
sempre
(buarcos)