entrevistas
josé santos silva ou “uma vitória do diabo”

maria joão fialho gouveia na sam 2019

rosabela afonso e maria joão fialho gouveia
abraço atlântico

walmir chagas e geraldo maia em palco
vieram do recife, trouxeram com eles histórias de vida e da sua cultura.
juntamente com adalberto cavalcanti constituem a formação base da banda “beto do bandolim”, até junho por portugal.
senti que tinham muito para contar, senti que não os podia deixar partir sem recolher a memória que transportavam. senti e pedi. a resposta foi imediata, onde e quando?
e foi assim, com a cedência do magnífico espaço da livraria miguel carvalho, na figueira da foz, que se registou este abraço.
nada foi preparado ou ensaiado, simplesmente, como sucede na vida, aconteceu. dia 20 de março 2019, começou mais uma primavera. foi uma tarde linda.
obrigado walmir e geraldo, onde quer que estejam.
o abraço atlântico aconteceu de verdade

walmir chagas e geraldo maia em palco
dele fica o registo
mestre zé rito_torreira

à memória de mestre joaquim raimundo (1933/2019)
Biografia de JOAQUIM HENRIQUES (RAIMUNDO)

com a esposa Conceição
Biografia de JOAQUIM HENRIQUES (RAIMUNDO)
No dia 9 de Julho de 1933 nasceu Joaquim Maria Henriques, mais conhecido por Joaquim Raimundo, apelido por que era conhecida esta família de construtores navais durante várias gerações.
Joaquim Henriques continuou a tradição do seu trisavô, bisavô, avô e pai; logo de muito novo aprendeu a arte de construir barcos, usados nas fainas da apanha de moliço e pesca na Ria de Aveiro.
Em 1959 Joaquim Henriques emigrou para os Estados Unidos, mas a paixão de construir barcos foi com ele e cedo começou a trabalhar para um construtor naval.
Mais tarde, o seu pai (Mestre Raimundo) também emigrou, em 1960, e começou a trabalhar com ele. Juntos usaram seus vastos conhecimentos que tinham em trabalhar com madeira. Foi aí que aprenderam não só a trabalhar com fibra de vidro, uma inovação na construção de barcos, como também Joaquim Henriques aprendeu as técnicas de desenhador naval, mais tarde usadas para desenhar os seus iates.
Em 1977 concretizou o seu sonho e fundou a sua própria companhia “Henriques Yachts” no estado de Nova Jersey, Estados Unidos. Tal foi o sucesso, que actualmente os iates da marca “Henriques” estão espalhados pelo mundo e são conhecidos nos Estados Unidos pela sua alta qualidade, a mesma fama que tinham os barcos moliceiros feitos na Murtosa pelo seu pai.
No entanto, ainda lhe faltava prestar homenagem à Ria de Aveiro e à Murtosa, terra que ele nunca esqueceu e tanto ama, e decidiu construir um barco moliceiro em fibra de vidro usando os planos e medidas exactas dos barcos que o pai, Mestre Raimundo, construía. Baptizou-o de “O Rei da Ria.” O “bota abaixo”deste barco moliceiro foi um grande evento não só com a presença de entidades americanas mas também portuguesas, entre elas a consulesa de Portugal em Nova Jersey, Dra. Maria Amélia Paiva.
Este lindo barco, “O Rei da Ria”, continua a navegar nas aguas da Barnegat Bay em Nova Jersey, Estados Unidos, orgulhoso pelas suas origens Murtoseiras e sempre admirado pelos americanos que não se cansam de tirar fotografias deste imponente barco com a sua vela ao vento.
Faleceu no dia 2 de Janeiro de 2019, em New Jersey
(obrigado a Natalie Serra, irmã mais nova do mestre Joaquim Raimundo, pela colaboração)

símbolo de Joaquim Raimundo (novo)
linhagem do mestre Joaquim Raimundo “novo”, segundo o próprio:
“Mestre Joaquim Maria da Silva Henriques (Murtosa, 1933 – conhecido por Joaquim Raimundo “Novo”)
Mestre Joaquim Maria Henriques (pai, Murtosa,1909/2005,conhecido por Joaquim Raimundo “velho”)
Mestre Américo Raimundo (tio, tinha estaleiro no Bico)
Mestre José Maria Henriques (tio, tinha estaleiro em Veiros – Santa Luzia)
Mestre Júlio Raimundo (tio, tinha estaleiro na rua de Sto. Estevao, Murtosa)
Mestre Israel Raimundo (primo, filho de Júlio Raimundo, ficou com o estaleiro do pai em Sto. Estevão.)
Mestre José Luís Henriques (avô)
Mestre Agostinho Raimundo (bisavô)”
……
em agosto de 2012, no museu estaleiro do monte branco na torreira, etelvina almeida conversou com o mestre. dessa conversa resultaram um conjunto de clips de vídeo já publicados.
em homenagem ao mestre, falecido em 2 de Janeiro de 2019, reedita-se num só vídeo a entrevista e gravação realizadas em 2012
conversas murtoseiras (4)
nascido na década de 40 do século XX na murtosa, onde viveu, francisco faustino é testemunha de um tempo que urge preservar.
veio ao mundo junto à ria e é descendente de gentes do mar, a sua vida profissional e o exercício pleno e permanente da cidadania, aliados a uma memória invejável e uma capacidade invejável de comunicação, tornam-no uma fonte de saber que não se esgota nas conversas que ficam registadas nos 4 vídeos.
o que destas conversas mais fica é o muito que haverá por saber e registar.
falar com o chico é um prazer e uma lição. isso aprendi
de 4 horas de conversa, ou melhor, de lição, este é o último registo.
os moliceiros têm vela (268)
frema
palavra da terra
das gentes
do serem dela
cheios alguns
deixo a frema
para que falem dela
e vejam
no homem a frema
de ser
e só assim continuar
o que é a frema
pergunto-vos
(torreira; regata do s. paio; 2016)
o filme continua com
“o tempo do moliço”
parabéns ti abílio carteirista
parabéns ti abílio

eis o homem da beira-ria, chama-se abílio carteirista
será que este ano são mesmo os 80? ou foi o ano passado?
quem conhece o ti abílio (carteirista) sabe bem que com ele tudo é possível.
eu acredito que este ano são mesmo 80 anos.
fala-se muito da “brejeirice da beira-ria” quando se analisam alguns painéis de moliceiros, mas só se sabe o que é a “brejeirice da beira-ria” depois de alguns momentos de convívio com o ti abílio.
fala-se do “duplo sentido” que algumas legendas de painéis de moliceiros utilizam, veja-se a alcunha “carteirista” e pensa-se logo numa interpretação, mas …… (vejam o vídeo)
o ti abílio tem também da tradição dos homens da beira-ria, no saber o valor da palavra e no reconhecer os amigos – é o que somos.
o ti abílio é a beira-ria
parabéns ti abílio, seja qual for a idade que você comemora hoje, nunca parecerá a que é.
abraço do amigo cravo
(os clips de vídeo, que registei em conversa com o ti abílio, mostram um ti abílio sério, de boa memória, muita experiência de vida e capaz de encarar o futuro com um discernimento que incomodará muitos de menos idade.
hoje o primeiro da série)
à conversa com mestre firmino tavares
dos mestres
na precisão do gesto
a mão o instrumento
o mestre
saberes herdados
na escrita dos dias
trabalhados
vai-se o mestre
fica a obra
diziam
já pouca obra
enquanto nenhuma
digo
é este o meu tempo
(torreira; 2015)

mestre firmino tavares a trabalhar com o formão na construção do moliceiro marco silva
ser mestre, não é só o que hoje se diz dos que obtiveram numa universidade esse grau, é coisa muito mais antiga. de saberes de artes e ofícios, de aprendizagens de anos, de carreiras feitas sob a orientação de um “mestre”, até se atingir a qualidade e a perfeição de execução que aos mestres são exigíveis.
não é tradição dos países do sul da europa este tipo de formação e aquisição de saberes e títulos, que remontam à idade média, mas que se continuam a utilizar em muitos países europeus, começando na frança, o país mais a sul. as antigas escolas industriais preenchiam, entre nós, esta função e nelas se formavam operários especializados que recebiam ensinamentos práticos dos “mestres de oficina”.
enfim, toda uma conversa que haveria/haverá que fazer sobre este tema, mas o que agora e aqui importa é ouver “mestre” firmino tavares, último de uma família de mestres construtores navais de pardilhó, e aprender com ele o como foi, o prazer de ter sido e de ensinar a fazer, fazendo.
falar com o mestre são lições de vida que não me canso de receber. espero que depois de ouvir este breve apontamento, sem pretensões, fiquem mais ricos, como eu fiquei