fausto bordalo dias no programa “primeira pessoa” da rtp
https://www.rtp.pt/play/p7801/e543401/primeira-pessoa
(antes de ler o que segue, aconselho a assistir à entrevista clicando no link acima)
foram sem dúvida momentos que me emocionaram ao ver e ouvir o fausto e que me entristeceram ao ouvir fausto bordalo dias. vi o cantor que admiro há muitos anos a necessitar de se apoiar numa fátima campos ferreira para caminhar, vi e doeu.
depois ouvi fausto bordalo dias falar por entre o fausto, e essa é outra tristeza, um homem lúcido pois assume, quase no fim da entrevista, que o que vai dizer vai desagradar a muita gente. mas é, também, quase de início que o faz.
atento que sou às palavras, cujo valor e significado tanto diferem consoante o por quem, o onde e o como, aqui ficam algumas breves meditações suscitadas pelas palavras de fausto bordalo dias.
minuto 05:43 “no planalto do Huambo, numa cidade que se chama Nova Lisboa, ou que se devia chamar ainda Nova Lisboa … “
que fausto bordalo dias se manifeste em relação a alteração de denominações de terras e monumentos no pós 25 de abril em portugal, é algo que como português, concordando ou não, lhe reconheço o direito de o fazer. mas manifestar-se em relação à designação atribuída a uma localidade que não é do seu país …. ele que no minuto 37:54 afirma ” eu não sou nacionalista, sou um patriota “, não reconhece aos patriotas de outras pátrias o direito de o fazerem!
no minuto 26:32 “Cabo Verde não existiria como país independente se Portugal não tivesse levado para lá pessoas. Vou-me atrever a dizer que muitos países africanos foram mais felizes com Portugal – infelizmente felizes com Portugal -, do que agora. Ou seja, quando uma independência não concorre para a felicidade dos povos alguma coisa está errada. “.
mais afirma no minuto 27:14, referindo-se aos povos da ex-colónias, “Eles viveram mais felizes antes da independência do que vivem agora. Eu sei que isto desagrada a muita gente mas é verdade“
não saindo do contexto do dito na entrevista, não deveria fausto bordalo dias, arrepender-se de, como disse no minuto 14:44 “fui considerado refractário” – ou seja, não foi à guerra, onde morreram 8.600 militares portugueses – e reconhecer que deveria ter participado no ‘esforço nacional de manutenção do império’?
para concluir uma nota breve sobre a sua demarcação em relação à “canção de intervenção”, afirma no minuto 16: 04 “era a canção de protesto, que a canção de intervenção é depois do 25 de Abril. porque a canção de protesto era essencialmente metafórica …”
curiosamente, do meu ponto de vista, a primeira música de intervenção de cariz ecológico é a “Rosalinda” do fausto, estávamos em 1976, havia uma central nuclear pensada para “ferrel, lá para peniche” e fausto escreve e canta:
Rosalinda se tu fores à praia se tu fores ver o mar cuidado não te descaia o teu pé de catraia em óleo sujo à beira-mar a branca areia de ontem está cheinha de alcatrão as dunas de vento batidas são de plástico e carvão e cheiram mal como avenidas vieram para aqui fugidas a lama a putrefacção as aves já voam feridas e outras caem ao chão Mas na verdade Rosalinda Nas fábricas que ali vês O operário respira ainda Envenenado a desmaiar O que mais há desta aridez Pois os que mandam no mundo Só vivem querendo ganhar Mesmo matando aquele Que morrendo vive a trabalhar Tem cuidado... Rosalinda se tu fores à praia se tu fores ver o mar cuidado não te descaia o teu pé de catraia em óleo sujo à beira-mar Em Ferrel lá p´ra Peniche vão fazer uma central que para alguns é nuclear mas para muitos é mortal os peixes hão-de vir à mão um doente outro sem vida não tem vida o pescador morre o sável e o salmão isto é civilização assim falou um senhor tem cuidado..."
nota (1) – por poder ser considerado polémico o que escrevi, agradeço que quem não estiver de acordo o manifeste
nota (2) – fausto bordalo dias não está senil, nem foi corajoso, atingiu apenas a idade em que nós portugueses achamos que “podemos dizer tudo”