está frio tenho os dedos gelados entanto ardo por dentro um fogo intenso que se consome no acto de escrever estas palavras poucas que nada dizem como sempre mas que me embrulham e me aconchegam nestas noites de estar só
mãos de mar
crónicas da xávega (487)
memória_14052011
mãos de pescador

torreira; 2006
há quem olhe para os carros, outros para a marca da roupa, outros para os rostos …. outros devoram com os olhos o que não comem
todos buscam o mesmo: conhecer
eu olho para as mãos e sei que aqui, aqui, encontro tudo.
as mãos do pescadores são rudes, gretadas, feridas, mas extremamente limpas.
são mãos que o mar lava e areia esfrega.
são mãos de trabalho, mãos de homens e mulheres que trazem nelas a história de uma vida, de um amor, de uma guerra, de uma faina,….
de uma gana de ganhar a vida no mar
mãos de mar (62)
sonho

torreira;2011
vazias mãos
apenas
de dedos cheias
esperam
assim este tempo
estes dias
ou o sonho
mudará o real
ou real
se tornará pesadelo
vazias ficaram
as mãos
é tempo de outro
tempo
mãos de mar (61)
recado

torreira; 2006
essenciais o pão
a sardinha
o copo de vinho
mar e terra
nas mãos do homem
essencial o ser
dono de si
estranhos serão
os tempos a vir
essencial o dar
as mãos
todas de todos
mãos de mar (60)
areia

costa de lavos; aparelhar; 2019
escrever na areia
escrever com areia
fazer casa na areia
melhor ainda
aceitar que nada mais és que areia
um grão apenas
de areia
mãos de mar (59)
dos nós e das mãos

poderás saber
que mãos
desataram os nós
dos afectos
que os houve
cegos
bem apertados
resta o
terem sido
nada mais
que mãos
refarão os nós
desatados
entrega ao tempo
o saber
se saber houver
capaz de
(torreira; 2011)
crónicas da xávega (289)
o jogo da vida
o movimento exacto
da pedra certa
é sabedoria de jogador
de nós as malhas feitas
a rede cresce
no movimentos exacto
na arte do mestre
a sobrevivência da companha
a vida também se joga
(torreira; 2013)
mãos de mar (58)
volto já

falo-te de um tempo
onde os dias se enroscam
preguiçosos e friorentos
sequiosos de sol
vai longe o verão
vão longe todos os verões
abraço-me e aqueço-me
sou a lágrima sustida nas cordas
dos cílios teimosos
amanhã quando acordar
ainda estarei constipado
nada que adoce a amargura
vou ver se roubo umas frases
bonitas e com elas fazer de conta
que sou o que gostava de ser
volto já
(torreira; o arribar do reçoeiro; 2016)
mãos de mar (57)
nós
não há geografia
que mate os afectos
impossível desatar
nós ancestrais
entrego-me nas mãos
do tempo e sou
(torreira; 2010)