mãos (10)


vazias mãos de 
tanto terem dado

sou
o que resta
migalhas de mim
por aí espalhadas

e eu 
eu nada
ao dar dei-me
e fiquei assim

vazio de mim
a olhar o horizonte
o sonho perdido no mar
a gaivota a passear a areia
o desespero

não regresso
fui-me
e não voltei

resta o casco
carcomido
encalhado

não cansado

(reparar redes; torreira; 2011)

postais da ria (393)


a lama dos dias

lembrados sereis
pelo que não fizestes

fracos heróis
tendes o tamanho da vossa ausência

impossível desfazer o nó 

ao valor do homem
sobrepôs-se o valor das coisas
sinal dos tempos digo

sabedoria antiga de aldeia 
nos meus ouvidos soa
vós é que sabeis

sobre vós a lama no nome