dos amigos
estendem-me os amigos palavras com abraços assassinos da solidão mais que amigos outra família são
português emigrante
partiram de bolsos vazios e o país no coração sonhavam uma vida melhor uma casa a velhice diversa foram dos primeiros e voltaram e no voltarem foram os últimos filhos e netos semearam que outras raízes criaram mais que uma bandeira são um povo orgulhoso das suas origens é uma honra ter entre eles tantos amigos
é tão fácil
venderás o peixe no mercado aos fregueses fiéis comprar-to-ão por comodidade hábito e cansaço às quintas montarás banca na feira venderás coisas várias outros caminharão à tua sombra serás o chefe não o líder nas terras piquenas é tão fácil parecer grande
morreu ontem, 15 de agosto de 2020, o ti zé formigo (67 anos)
era um bom amigo, do que lhe conhecia, admirava a dedicação à esposa – em cadeira de rodas – e a alegria
tinha defeitos? quem não tem… fico triste e penso que a murtosa também
à família, em particular à esposa, o meu silêncio com um sorriso do ti zé dentro – lembrá-lo-ei sempre assim
ao ti zé formigo
não ti zé
não estou na murtosa
nem você agora
era nas regatas de moliceiros
ou bateiras
ou no são paio
que nos encontrávamos
havia sempre um abraço
um sorriso uma salvação
uma salvação ti zé
agora que ninguém o salva
lembro-me do tempo
em que na murtosa
as pessoas se salvavam
vão partindo os amigos
a família desse tempo
e eu vou partindo aos poucos
bocados de mim que se foram
pedaços de outros
que comigo ficam e são raízes
ti zé
você é uma raiz
que fica comigo
abraço do “senhor cravo”
(murtosa; 2019; figueira da foz; 2020)
estou vivo, tenho opinião e escrevo-a
cais do bico; regata do emigrante; 2020
murtosa; cais do chegado; 2009
cais do bico; cipriano brandão; 2006
cais do bico; cipriano brandão; 2006
cais do bico; regata do emigrante; 2006
cais do bico; regata do emigrante; 2006