vou-me
deixo-vos
o sonho
(cabritar; cabrita alta; torreira; 2012)
vou-me
deixo-vos
o sonho
(cabritar; cabrita alta; torreira; 2012)
não não digas nada
se tremo
é porque sou ainda
(cabritar; cabrita alta; torreira; 2012)
escrevo pouco
vivo muito
amo demais
seja eu poema
(cabrita de pé; torreira; 2012)
escrevo-te corpo descrevo-te perco-te encontro-me corpo sopro de
(apanha de bivalves; a chegada; torreira; 2017)
o pau de fósforo viu a vela e ao vê-la não resistiu foi de pau feito acendê-la
(cabrita alta; o lavar as lamas do redenho; torreira; 2012)
ser hoje intensamente é ser amanhã em pleno isso te digo do estar aqui
(cabrita alta; torreira; 2012)
gosto muito de mínimas máximas há que baste por aí sempre as houve mas é nas mínimas coisas que os olhos que sabem ver se perdem que o coração que sabe sentir se afoga que as mãos sábias se encontram são as mínimas coisas que nos ferem e nos alegram por isso cada vez mais gosto muito de mínimas
notas de um retirante
“Como Deus não pode alterar o passado, é obrigado a depender dos historiadores para o fazerem”
Afonso Cruz, em “MIL ANOS DE ESQUECIMENTO”
………………
vivografia e bibliografia
não, não há troca de bb por vv, são duas formas de descrever os dias.
na “vivografia” recolhem-se testemunhos, vivem-se os dias de quem ou daquilo sobre que se quer escrever. usam-se fontes “directas”.
consultando bibliotecas, textos escritos por outros, apresenta-se no fim do escrito a “bibliografia”. usam-se “fontes indirectas”.
o escrito passará mais tarde a bibliografia de outros, passará a ser fonte e …. se a fonte não reflectir o real?
exemplo:
bibliografia: “ A par da apanha legal de bivalves tem-se desenvolvido nos últimos anos a apanha ilegal dos mesmos, sem licença, potenciada pelas suas periódicas interdições por razões de saúde pública”
(escrito em 2016, já é passado em 2017)
vivografia: conhecendo a realidade da ria, podemos dizer o seguinte:
em 2012 e até 2014, houve uma proliferação extraordinária de ameijoa japónica na ria de aveiro. período que coincidiu com a crise. nestes anos um número anormalmente grande de ilegais invadiram a ria, a pé, mas a colheita foi perfeitamente marginal e sem significado, face à captura feita pelos pescadores profissionais e legalizados. em 2015 a japónica quase desapareceu.
a apanha em períodos de interdição, embora exista, continua a ser marginal, nos circuitos de apanha e comercialização.
o que é ilegal há muitos anos e, aí sim, temos valores significativos, é apanha de bivalves com artes ilegais.
não digo mais nada, porque toda a gente sabe do que falo ….. toda a gente que conhece a ria, digo eu.
por vezes, mais vale não dizer nada do que “querer tapar o sol com a peneira”.
(cabrita alta – arte legal; 2012)
cabrita alta
escrevo sete metros
nunca menos
mais de dez quilos
lançar arrastar puxar
lama cascas ameijoa
quantos quilos mais?
os músculos retesados
joelhos fincados
na borda na bateira
esmagam rótulas
tenso o dorso
o esgar na boca
nos olhos no rosto
os dentes cerrados
o esforço verga o corpo
desgasta-o deforma-o
o homem não é de ferro
a cabrita sim tem dentes
ferrados na lama na carne
rasga músculos fere
escrevo sete metros
nunca menos
mais de dez quilos
quero que os sintas
ao leres
(torreira; cabrita alta; 2012)