postais da ria (406)


gosto muito
de mínimas
máximas há que baste
por aí
sempre as houve

mas é nas mínimas coisas

que os olhos
que sabem ver
se perdem
que o coração
que sabe sentir
se afoga
que as mãos sábias
se encontram

são as mínimas coisas
que nos ferem e nos
alegram

por isso
cada vez mais gosto
muito de mínimas
torreira; cabrita alta; 2012

postais da ria (196)


notas de um retirante

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joão manuel brandão e a cabrita alta

Como Deus não pode alterar o passado, é obrigado a depender dos historiadores para o fazerem

Afonso Cruz, em “MIL ANOS DE ESQUECIMENTO”
………………

vivografia e bibliografia

não, não há troca de bb por vv, são duas formas de descrever os dias.

na “vivografia” recolhem-se testemunhos, vivem-se os dias de quem ou daquilo sobre que se quer escrever. usam-se fontes “directas”.

consultando bibliotecas, textos escritos por outros, apresenta-se no fim do escrito a “bibliografia”. usam-se “fontes indirectas”.

o escrito passará mais tarde a bibliografia de outros, passará a ser fonte e …. se a fonte não reflectir o real?

exemplo:

bibliografia: “ A par da apanha legal de bivalves tem-se desenvolvido nos últimos anos a apanha ilegal dos mesmos, sem licença, potenciada pelas suas periódicas interdições por razões de saúde pública

(escrito em 2016, já é passado em 2017)

vivografia: conhecendo a realidade da ria, podemos dizer o seguinte:

em 2012 e até 2014, houve uma proliferação extraordinária de ameijoa japónica na ria de aveiro. período que coincidiu com a crise. nestes anos um número anormalmente grande de ilegais invadiram a ria, a pé, mas a colheita foi perfeitamente marginal e sem significado, face à captura feita pelos pescadores profissionais e legalizados. em 2015 a japónica quase desapareceu.

a apanha em períodos de interdição, embora exista, continua a ser marginal, nos circuitos de apanha e comercialização.

o que é ilegal há muitos anos e, aí sim, temos valores significativos, é apanha de bivalves com artes ilegais.

não digo mais nada, porque toda a gente sabe do que falo ….. toda a gente que conhece a ria, digo eu.

por vezes, mais vale não dizer nada do que “querer tapar o sol com a peneira”.

(cabrita alta – arte legal; 2012)

postais da ria (148)


cabrita alta

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joão manuel dias

escrevo sete metros
nunca menos
mais de dez quilos
lançar arrastar puxar
lama cascas ameijoa
quantos quilos mais?

os músculos retesados
joelhos fincados
na borda na bateira
esmagam rótulas

tenso o dorso
o esgar na boca
nos olhos no rosto
os dentes cerrados

o esforço verga o corpo
desgasta-o deforma-o
o homem não é de ferro
a cabrita sim tem dentes
ferrados na lama na carne
rasga músculos fere

escrevo sete metros
nunca menos
mais de dez quilos

quero que os sintas
ao leres

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no fundo da ria e cabrita arrasta

(torreira; cabrita alta; 2012)