cansado sobre as pernas cruzadas na areia sentou-se entre sol e mar pendurou o olhar perdido de ali estar por momentos incontáveis quedou-se ausente absorto a decisão tomara-a há muito só não sabia o quando estendeu o braço agarrou o sol
arribar
crónicas da xávega (377)
nada
nada se repete nada é o mesmo nunca chegarei sem regressar cansado de ver desiludido de conhecer de já o saber a costa é longa diversos os homens não as raízes são cada dia mais ténues os elos que a desilusão corroeu outros homens virão outros eus mais sábios o mar de antes de sempre não é de ninguém mesmo de quem dele dono se julga fábrica de desilusões este estar aqui ainda por entre os dedos escorreram os dias e os homens
crónicas da xávega (370)
basta
há tanto para dizer e são tão poucas as palavras resumo-me ao fazer ao saber que se quisermos faremos e seremos digo basta e tu sabes que outra palavra por detrás digo basta e dói-me esta gente desiludida a votar no engano há tanto para dizer não basta escrever não outra vez não basta
crónicas da xávega (369)
crónicas da xávega (345)
descrente

costa de lavos; 2017
escrevo hoje o tempo
com o tempo que tenho
não será muito digo
mas é o meu tempo
no caminho dos dias
é nos outros que o vejo
em mim que o sinto
ao tempo que foi e
ontem ainda
gasto o tempo até ao esqueleto
branco do ínfimo segundo
não creio na reciclagem dos dias
também nisso a minha descrença
crónicas da xávega (335)
eu queria

xávega; marga; costa de lavos; 2019
eu queria escrever
hoje
algo sobre o amor
eu que tanto amei
hoje
não consigo escrever
porque não
amo
hoje
não me basta a memória
de ter sido
apetecia-me ser
escrever-te a ti
o que não consigo
escrever hoje
porque hoje
hoje
nada sinto
crónicas da xávega (317)
esculpir

leirosa; arribar da manga; 2019
esculpir palavras
como se obra para ti feita
mas tu não existes
só as palavras são corpo
crónicas da xávega (310)
a vertigem

torreira; arribar; 2013
enfrenta
as palavras
como o pescador
as ondas
para resgatar
o barco
sê a vertigem
crónicas da xávega (307)
pedaços de mim

deram à praia
pedaços de mim
nunca fiz obra
perfeita nunca
fiz sempre
a minha obra
atirei de novo ao mar
o que o mar trouxe
atirarei sempre
recuso-me saber
a obra desfeita
mesmo se imperfeita
(torreira; arribar; 2012)
crónicas da xávega (300)
a imagem

o arribar da manga
a imagem
habita o instante
tensa corda
entre tempos diversos
memória de
(torreira; 2013)