os velhos (I)


assim, como se ainda
os velhos atravessam o tempo de memória
com mão ágil lágrima grossa regressam

os velhos caminham caranguejos lentos
medusas de horas e anos

os velhos ajoelham calos e varizes
nas pedras gastas do passado

os velhos contam histórias antigas
sabedoria de séculos

os velhos afagam as crianças
macias as mãos grossas magras ossudas

os velhos arrastam-se e caem
cansadas as pernas fechados os olhos

os velhos às vezes já estão mortos
outras morrem ainda mais velhos

os velhos vivem e recordam
e não vivem e recordam ainda

os velhos já foram
por isso são