
condeixa; 2006
condeixa; 2006
oh freguesa!
condeixa; s/d
são assim as feiras
os grandes espaços de convívio
onde se compra o que a terra dá
e se regressa por momentos às raízes
condeixa-a-nova
o sector financeiro está em crise
e a indústria da guerra?
o sector automóvel está em crise
e a indústria da guerra?
o sector da construção está em crise
e a indústria da guerra?
deixem as pombas voar
(procuro urgentemente
no mercado
um produto que traga na etiqueta:
“made in israel”)
condeixa – orelhudo
vêm do campo
tamancas com sola de terra
mãos com luvas de calos
couves, feijão, agrião
cavar, regar, sachar
suar, costas curvadas
submissas não
aqui o pão
nasce na terra
entram em casa
descalços
para serem de novo
contam histórias
povoam as aldeias
com o negro da saudade
não choram em público
não se lhes sabe a idade
nem conhecem outra cor
são o tempo que foi
nele moram
guardam-se
são a memória de
terem sido mais
na casa vazia
a solidão
esperam-se
ignoram quanto
contam histórias às crianças
enganando o tempo
(condeixa; eira pedrinha)
o sorriso
um sorriso
como se um pequeno sol
vindo de dentro da adega
um sorriso
onde se abrigava o tempo
assim como cheguei parti
mas nunca mais
nunca mais o esqueci
o sorriso
(eira pedrinha; condeixa-a-nova)