aqueço as mãos ao lume da memória reinvento o vazio de
(torreira; safar redes; 2019)
à memória do ti manel trabalhito
(fica sempre uma marca do pescador nas águas onde pescou este brilho é o teu manel é o de todos os que já não)
hoje só me saem das mãos seixos rolados apanhei-os no mar e quero lançá-los à ria ali onde a tua bateira manel ficar assim a olhar os círculos onde o teu rosto boa noite manel
por que não quero escrever
nada mais resta que uma varanda sobre o tempo uma corda tensa a prender os dias nada mais que uma visão coberta de silêncios e vozes idas nada mais que palavras inventadas onde já não as há caminhos feitos muitos por fazer uma corda esticada sobre os dias procura uma guitarra que certo é o fado
águas vivas outras as artes outras redes malhas mais finas prenderam o sonho o sol uma vida o testemunho do tempo o olhar a guardar a memória onde agora safam-se os dias onde algas secas ainda a paciência é a arte da sobrevivência a reinvenção dos dias é um tempo cheio de tempo uma navegação em águas vivas porque revividas
(torreira; safar redes; 2019)