
torreira; 17/06/2019
torreira; 17/06/2019
o mestre a trabalhar com serra tradiconal
torreira
torreira é nome
de mulher
feito terra
escuto a sua voz
a camaradagem
o ser completa
torreira é o mar
os barcos
as companhas
é o rio as gentes
os saberes
o pouco de tanto
o mais por belo
que seja
vazio de corpos
é paisagem
(torreira; safar redes; 2018)
aos homens e mulheres da ria
cirandar e escolher
existem homens
que fazem barcos
como se filhos
existem homens
que os encomendam
fazem neles vida
existem mulheres
camaradas dos homens
na faina dos barcos
homens e mulheres
sempre
mulheres e homens
os barcos só
não existiriam
(torreira; cirandar; 2016)
para o meu amigo fernando nuno
por que mares andaste fernando?
quantos navios?
quantas safras?
quantos comandantes?
quantos países?
quantas vezes mestre?
quanto aprendeste?
a quantos ensinaste?
pescador da torreira
é pescador de todos os mares
que da ria só embalo
não ganho que baste
no safar das redes
não safas a vida
alguém safará?
as histórias muitas
de teres sido e como tu tantos
enchem as horas da espera
de haver uma vaga
de chegar a idade da reforma
de partir ou ficar
na ria não se faz vida
pois não zé?
(torreira; 2009)
carta
quando o barco é o camarada
sabes a quanto vendem os pescadores
o quilo de choco?
de linguado?
de berbigão?
de ameijoa?
de mexilhão?
de linguado?
sabes quantas horas de ria
para apanhar nunca se sabe quanto
embora se saiba a quanto?
quantas horas a safar redes?
quantos euros em gasolina?
quantas idas à fisiatria?
quantos dias de férias?
quanto ao fim do ano?
procura as respostas
encontrarás o labor
por detrás das bateiras adormecidas
e farás dos teus postais
um hino aos homens e às mulheres
que todos os dias
todas as semanas todo o ano
deixam na ria o corpo
pedaço a pedaço
se mal pagos são
pelo que do corpo lhes sai
sejas tu a cantá-los
quando pela madrugada
ou ao fim do dia
lhes fotografas os barcos
e
nos enches de espanto
(torreira; 2016)
o alberto trabalhito (trovão) e o necas
a solheira é uma rede de emalhar de 3 panos justapostos – 2 albitanas e um miúdo – ou rede de tresmalho.
o aparelho da solheira é constituído por um determinado número de redes – andares/rações. as malhagens e comprimento total estão definidas no “Regulamento por arte de emalhar”.
de oito em oito andares é lançada uma bóia para marcar a posição e servir assim de referência a outras bateiras ao mesmo tempo que nos dá o alinhamento coma bóia inicial.
os andares têm a correr no cimo um tralho de bóias e no fundo um tralho de chumbo – este de acordo com os modelos mais modernos é constituído por uma corda por dentro da qual corre o próprio chumbo.
assim a rede assenta no fundo e nela emalham os peixes – chocos, linguados e, por vezes sarguetas – dos quais os dois primeiros são os verdadeiros objectos de captura
este vídeo, dos primeiro que fiz, data do de 2010, contou a colaboração do meu amigo alberto trabalhito (trovão) e o necas (já falecido) para um lanço breve e perto do porto de abrigo.
por estranho que pareça queria dedicar este vídeo aos pescadores da torreira e ao necas que , mais que um cão, era um amigo de trovão e da linda.
além de guardar as redes e o barco ainda ia chamar um dos donos quando era preciso, quantas vezes o trovão dizia ao neca “vai chamar a linda” e o mesmo para a linda “vai chamar o trovão” …. e o necas lá ia.
se no filme o ouvimos ladrar é porque vão a passar outros barcos e ele como bom cão de guarda vai avisando que ali é a casa dos donos.
obrigado trovão por me teres levado contigo, obrigado alfredo miranda pela documentação sobre as artes de pesca.
espero ainda publicar mais alguns vídeos só sobre a alagem, com outros pescadores noutras bateiras.
quero que vivam a ria com os sons dela e as gentes que dela tiram sustento
(torreira; 2010)
tudo cabe na memória
até o esquecimento
(regata de bateiras à vela; s. paio, 2014)
o largar da solheira
o meu amigo salvador
o salvador
safar as redes da solheira
quando a mulher é camarada
(torreira; 2016)
álvaro gavina e paula