nem

nem tempestade nem bonança outono apenas outubro ou redondo número o nome onde tudo resvala por nada permanece não me procures não estou não há ninguém silencio

(torreira; o spot)
águas vivas outras as artes outras redes malhas mais finas prenderam o sonho o sol uma vida o testemunho do tempo o olhar a guardar a memória onde agora safam-se os dias onde algas secas ainda a paciência é a arte da sobrevivência a reinvenção dos dias é um tempo cheio de tempo uma navegação em águas vivas porque revividas
(torreira; safar redes; 2019)
torreira; 17/06/2019
o mestre a trabalhar com serra tradiconal
torreira
torreira é nome
de mulher
feito terra
escuto a sua voz
a camaradagem
o ser completa
torreira é o mar
os barcos
as companhas
é o rio as gentes
os saberes
o pouco de tanto
o mais por belo
que seja
vazio de corpos
é paisagem
(torreira; safar redes; 2018)
aos homens e mulheres da ria
cirandar e escolher
existem homens
que fazem barcos
como se filhos
existem homens
que os encomendam
fazem neles vida
existem mulheres
camaradas dos homens
na faina dos barcos
homens e mulheres
sempre
mulheres e homens
os barcos só
não existiriam
(torreira; cirandar; 2016)
para o meu amigo fernando nuno
por que mares andaste fernando?
quantos navios?
quantas safras?
quantos comandantes?
quantos países?
quantas vezes mestre?
quanto aprendeste?
a quantos ensinaste?
pescador da torreira
é pescador de todos os mares
que da ria só embalo
não ganho que baste
no safar das redes
não safas a vida
alguém safará?
as histórias muitas
de teres sido e como tu tantos
enchem as horas da espera
de haver uma vaga
de chegar a idade da reforma
de partir ou ficar
na ria não se faz vida
pois não zé?
(torreira; 2009)