“Para o Fernando Eduardo Carita” é o último poema publicado por isabel aguiar, em 11 de novembro de 2021, na sua página do facebook.
praia de mira
memória_10062010
a memória dos dias

praia de mira; 2009
poema do dia
nos olhos
o brilho mais límpido
das rochas
a fonte o rio
nascem
dos olhos
a chama o lume
brotam
nos teus olhos
me deito
ao comprido das horas

praia de mira; 2009
memória_31052010
a memória dos dias

praia de mira; 2010
assim se vêem os homens
é a primeira deste ano.
dia de mar de vaga alta e de risco para quem ao mar se faz.

praia de mira; 2010
crónicas da xávega (346)
a hora do quinhão

praia de mira; 2009
não têm rosto
nunca o tiveram
mesmo que o produto da sua faina
seja o mais apreciado
são pescadores artesanais
das artes da arte-xávega
da xávega
pescadores
quase todos o foram
para voltarem a ser
longe do mar fizeram vida
a vida que o mar lhes negou
regressam por vício
ou porque
como o povo diz
o bom filho a casa torna
é a hora do quinhão
que foi boa a pescaria
crónicas da xávega (332)
o melhor de mim
não to posso dar
deixei-o um dia
nos braços do mar

praia de mira; 2008
pescadores_ 12012010

praia de mira: 2008
erguem-se de madrugada
um pedaço de broa
café
o desjejum parco
rápido
que o arrais deu ordens
de mar
repousam
o corpo gasto
à sombra dos aparelhos
enquanto ordens
não chegam
(são pescadores
sempre o foram
mesmo quando
não o eram)
crónicas da xávega (330)
é tarde

praia de mira; 2009
é tarde
não sei se chegarás um dia
mas eu parti tanto
que a tua chegada
se vestirá de espanto
crónicas da xávega (304)
mas

a areia queima
a rede pesa
o sol abrasa-me
pesam-me os anos
a vida dura
sou ainda este corpo
a alimentar
a areia queima
a rede pesa
mas
estou vivo
(praia de mira; 2009)
crónicas da xávega (303)
alguns são meus amigos

o carregar do saco
não são capa de revista
não têm nome
são apenas um número
na estatística
sabe-se deles quando
à mesa peixe fresco
da costa fala do verão
são em fim de vida
o que no início alguns
voltam por ser pouca
a paga por tantos anos
parcas as reformas
deles só sei que
não são capa de revista
não têm nome
são apenas um número
na estatística
alguns são meus amigos
(praia de mira; 2009)
crónicas da xávega (277)
auto-retrato

ganhar o mar
aprumadas raízes
frondosos ramos
como é difícil
ser árvore no mar
(praia de mira; 2010)