para além de


vejo-me ainda no olhar
o outro
nas palavras
nos silêncios
descubro-me e descubro

escuto-me
ouvindo
eu sou já o
cresci em mim
ao sê-lo também

nos que me rodeiam
sou
com o prazer
de me ser
não sei de solidão
somos muitos em mim

seremos ainda
quando um não for
assim a memória de um tempo
para além de

(torreira)

o grito


reflexos marina pescadores torreira
recuso outro tempo
que não o meu
sou o agora e o aqui

na inquietação de
querer melhor

sou
a pedra
no vidro
o prego
no sapato
 
não mudo de passeio
mudam
não ponho máscaras
sou-me
irritantemente
por vezes sei e nunca
é demais

não procuro
encontro
reencontro
vomito
 
quisera ser
o grito

ser só ser


os rios das cores
no lento saborear
deste estar aqui
longe e perto de
ser só ser só

trazer na língua o sal
roubado algures

ter tudo sem nada
querer possuir
e ser feliz
por ser assim

olhar tudo e tudo ser
na alegria plena
de estar vivo e ver

as cores bailam-me
diante dos olhos
são rios que nascem
sem ânsias de foz

sorrio
por entre as nuvens
dos dias
inúteis
no lento saborear
deste aqui estar

(torreira; 2011)