mãos (10)


vazias mãos de 
tanto terem dado

sou
o que resta
migalhas de mim
por aí espalhadas

e eu 
eu nada
ao dar dei-me
e fiquei assim

vazio de mim
a olhar o horizonte
o sonho perdido no mar
a gaivota a passear a areia
o desespero

não regresso
fui-me
e não voltei

resta o casco
carcomido
encalhado

não cansado

(reparar redes; torreira; 2011)

mãos (5)

mãos (5)


(des)crença

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patrícia relvas (lavoisier)

 
acredito no produto
das mãos na obra
talvez memória um dia
 
o reencontro com
perdura enquanto
apenas enquanto
 
a eternidade o regresso
são hoje e agora
nada existe para além
 
um amigo trouxe-te
sem o saber
a este dia onde ainda
 
as tuas palavras
o teu rosto
as nossas conversas
foram de novo
 
nisso acreditávamos
acredito ainda
 
(lavoisier; cae; 2019)

mãos (3)


(lembrando dois grandes mestres
fernando pessoa e josé gomes ferreira)
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querem
 
querem que eu tenha
o vosso tamanho
 
querem que desça
as escadas de mim
e fique na porta
de esperar sentado
 
estou aqui inteiro
com o tamanho de ser eu
não do sonho de mim
mas o de ser assim
 
queriam que eu tivesse
o vosso tamanho
 
deixem-me rir
 
(ao fundo um cantautor, senta-se ao piano e com a sua voz rouca inicia uma canção)