a beleza do sal (129)


no sal a memória do sol e do mar

armazéns de lavos
estalam-me na cabeça
os tufões medonhos do atlântico sul
rebentam-me nos olhos
as calemas de março
o simoun enche-me a boca
de areia e raiva

lambem-me o sexo
as chamas que no verão
devoram pinhais e searas
tremem-me as mãos
sinto nos dedos os abalos de agadir

mergulham ante meus olhos horrorizados
todos os passageiros do titanic
o amazonas corre-me nas veias
ribombam-me no coração
as cataratas do niagara
os ouvidos rebentam-me
com a pressão dos grandes rios
a entrarem no mar

o corpo arde na fogueira
possesso de um demónio
inventado pela inquisição

todo eu tremo ante tanto desvario
e tudo se conjuga
no rodopiar do carrossel louco
desta cabeça
que não sei se é minha
mas que pesa
como se fosse o mundo 
armazéns de lavos