mesmo que não ande todos os dias caminho por dentro de mim
(mexer; morraceira; 2016)
no sal a memória do sol e do mar
estalam-me na cabeça os tufões medonhos do atlântico sul rebentam-me nos olhos as calemas de março o simoun enche-me a boca de areia e raiva lambem-me o sexo as chamas que no verão devoram pinhais e searas tremem-me as mãos sinto nos dedos os abalos de agadir mergulham ante meus olhos horrorizados todos os passageiros do titanic o amazonas corre-me nas veias ribombam-me no coração as cataratas do niagara os ouvidos rebentam-me com a pressão dos grandes rios a entrarem no mar o corpo arde na fogueira possesso de um demónio inventado pela inquisição todo eu tremo ante tanto desvario e tudo se conjuga no rodopiar do carrossel louco desta cabeça que não sei se é minha mas que pesa como se fosse o mundo
arrumar o sal no armazém
Recriação da safra à moda antiga” – foto 14
giga cheia à cabeça, cinquenta quilos quase, elas caminham com o porte das grandes senhoras que ao vê-las as invejam
“Recriação da safra à moda antiga” – foto 12
com esta publicação termina a série de fotos em que pretendi mostrar a “Recriação da safra à moda antiga”, organizada em agosto de 2020 no ecomuseu do sal, nos armazéns de lavos.
esta série só foi possível graças a três factores – trabalho, amizade e sorte – e a três pessoas – santos silva, margarida perrolas e gilda saraiva.
esparsamente irão aparecendo outras fotos deste evento mas sem o carácter que a série revestiu.
o meu abraço a todos os que com a sua amizade me permitiram fazer estes “bonecos”.
na foto os marnotos (marronteiros) e os montes de sal
“Recriação da safra à moda antiga” – foto 10
giga cheia, giga vazia, pela silha se cruzam as tiradeiras e o sal caminha com elas