mãos de mar
mãos de mar (58)

mãos de mar (57)
nós
não há geografia
que mate os afectos
impossível desatar
nós ancestrais
entrego-me nas mãos
do tempo e sou
(torreira; 2010)
mãos de mar (56)
desafio
todo o desenho
não é mais
que um esboço
quase perfeito
inventar o esboço
é o desafio
mais que perfeito
(costa de lavos; 2017)
mãos de mar (55)
quando o mar trabalha

depois de seco o saco é de novo fechado para o aparelho da xávega poder fazer novo lanço. ao acto de fechar o saco chama-se “dar o porfio”, é o que está a fazer o meu amigo agostinho canhoto
é de rede
deitada ao mar do tempo
este livro
em terra
ficará a contar estórias
a falar de muitas vidas
e saberes
fora dele muito mais
que para tudo
saco não havia
e peixe houve que saltou
deu-se o porfio
fechou-se o saco
é na praia que encontras
os búzios que procuraste
em casa
(torreira; 2011)
mãos de mar (54)
bem vindo à sua terra
bem vindo à sua terra
dizem-me quando
não sei desfazer este nó
prendem barcos
unem cordas
ligam gente
são raízes
os nós
mas como são frágeis
os nós humanos
como somos
sem nós
há nós impossíveis
de desfazer
pois há
(torreira; 2010)
mãos de mar (53)
sonha
se infinito é
o inatingível
há tantos por aí
escolhe um
e agarra-o
(torreira; 2013)
mãos de mar (52)
essencial
essencial a corda
as mãos
tu nelas inteiro
essenciais as mãos
a corda
tu nelas sempre
essencial tu
fazedor de
(costa de lavos; 2017)
mãos de mar (51)
oiço-te
escuto nas mãos
as vozes por dentro
oiço-te
(torreira; 2013)
mãos de mar (50)
de palavras
de palavras farás
a casa
nela habitarás
nu
despido de tudo
cheio
de ti
(torreira; 2013)