voa


 

voa

 

 

o céu não

é onde dizem

é onde

quiseres que seja

 

estende os braços

não há vazios

em torno de ti

apenas outros braços

ignorando também

que podem voar

 

é tempo de roda

e saltar à corda

escorregas e malha

e gargalhadas soltas

 

voa

 

(skim board; buarcos)

de passagem


agora é

o sábio

escuta o silêncio

lê na luz

estende as mãos à chuva

a verdade é-lhe estranha

aceita

a procura de

sempre

 

o sábio

sabe que não sabe

dorme por fora apenas

por dentro

no silêncio da sombra iluminada

tudo nasce e existe

 

o sábio

sabe ser agora

é essa a sua única sabedoria

se lhe perguntares

o que sabe

 

está de passagem

sempre

 

(buarcos)

o instante


e, no entanto

 
de bolor
estes dias anoitecidos
bafientos
 
e
no entanto
há ainda o voo
não do moscardo
mas do homem
no
exacto instante
em que
poisado
em tábua frágil
se ergue sobre
o mar
 
nada existe
então
senão
o instante
o breve instante
suspenso do tempo
sem chão
aparente
 
em que tudo é
sem nada ser
 
o vento corre sobre as ondas
e os homens