eu e o outro somos um
cada vez sei menos
e o que sabia esqueci
sou a memória ao contrário
cheio de tudo vestido de nada
desaprendi de sorrir ao vento
de tanto o vento me cortar o sorriso
restam-me as mãos e os olhos
este bicho inquieto que sou
rasgar silêncios procurar ser voz
teimoso e incredulamente crédulo
fora do baralho e o jogo corria bem
cada vez sei menos
e o que sabia esqueci
não estranho por isso
que não me entendam
não me oiçam nem me falem
sou de menos para mim
e de mais para muitos
sou o que incomoda por ser
eu e o outro somos um
(torreira; regata da ria; 2011)

