dos pescadores
hábeis as mãos
herdaram a sabedoria
a arte das aranhas
nunca souberam porém
dos fios fazer corda
(torreira; marina dos pescadores)
dos pescadores
hábeis as mãos
herdaram a sabedoria
a arte das aranhas
nunca souberam porém
dos fios fazer corda
(torreira; marina dos pescadores)
do olhar
atento escuto
o que dizer dos dias
onde não moro
na solidão da ria o ti augusto rampa parte para mais um dia de pesca ao tim tim (à cana)
(ria de aveiro; torreira)
a tua casa
a tua vida
o teu lugar onde
és o que
o teu contexto
de sobrevivência
quanto custa seres
aqui?
o que és se aqui
não for?
sobreviver
não é subservir
o homem
é ele e a sua palavra
onde quer que
desconhece outra geografia
que não a do que pensa
a verdade não é localizável
no mapa dos interesses locais
é
mesmo que a sonegues
ou
propositadamente a ignores
partiu-se um vidro na janela
era o teu nome
não te ver
ouvir-te quando
saber-te sempre
sentir-te
que fazer deste ser assim
para além de mim?
(torreira; marina dos pescadores)
mesmo sem mim
as manhãs
continuarão a ser
isso te deixo
tenho pouco
não quero nada
nada peço
basta-me o ser
aqui
sobre tudo
o nevoeiro caiu
duas bateiras
aproximam-se
trarão pão
para a mesa?
o pretenso não é
o que pensa
senão seria o que
não é
e isso seria muito bom
para ele
o pretenso tem
opinião sobre tudo
sobretudo sobre
o que não sabe
o pretenso não fala
para os outros
mas para se ouvir
ilude-se na pretensão
da auto audição
o pretenso
dito por extenso
é o por debaixo
do que ao de cima
pretende ser
o pretenso
é vítima onde se julga
herói
na ânsia de querer
o pretenso
corrói
o pretenso é
deixê-mo-lo ser
pretensamente