os moliceiros têm vela (99)


palavras de mim

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não me custa ser como sou
no entender do direito do outro
a ser diferente de mim e aceitá-lo
como coisa natural de sermos muitos
diversos e comunicantes por natureza

não me custa ser como sou
não sei de outro modo de ser
nem me imagino a sê-lo
sou eu sessenta e três anos depois
não sei quantos antes
o incomodado que incomoda

o caminho aproxima-se do fim
por força das leis que me trouxeram aqui
nada peço nada me peçam senão
o continuar a ser esta coisa de carne e osso
com muitas ganas de fazer de olhos abertos
e uma noção de justiça difícil de calar

vou por meus pés até onde puder
contra a maré se necessário
mas quem diz que maré cheia não é
vazia de sentido?

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(torreira; regata do s. paio; 2012)

os moliceiros têm vela (93)


retrato com moliceiros

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de grande tem a terra
o cemitério a saudade
o silêncio

as casas vazias muitas
para retornos breves
a ausência

há moliceiros a vogar na ria
nunca o longe foi tão perto

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(torreira; regata do s. paio; 2014)