não desgastes as palavras
aprende a ouvir o silêncio
a estares por dentro dele
a seres silêncio também
para que a voz te saia límpida
e o grito
o teu grande grito
seja claramente escutado
não desgastes as palavras
é esta a minha ria a da sobrevivência das artes aqui homem e mulher são camaradas em tudo iguais o pão que comem colheram-no ambos da mesma fonte é esta a minha ria a da resistência da solidariedade a que nem todos vêem a que alguns mataram conscientemente mas que é a mais bela ria do mundo
(murtosa; cais do chegado; carregar caranguejo)
pela estreita entrada
que a maré deixou
o pescador guia o barco
em busca do abrigo
do cais, do regresso
ansiado
deram-se as mãos
como há muito não
chegados que eram
de outros caminhares
perdidos no tempo
a bateira
vem pesada
caranguejo muito
a paga
sempre pouca
a vida cadela
deram-se as mãos
e beijaram-se