do início
tudo começa antes
ninguém sabe quando
mas todos todos
procuram o início
do início
(torreira; regata s. paio; 2015))
(para uma menina grande
que nunca será daqui)
preciso de falar de ti
olho e vejo e não vejo
o que vêem os teus olhos
vejo-te e uma lágrima
braços e mãos em movimento
permanente e aleatório
os sons guturais que emites
palavras de uma língua só tua
olhos como se todo o corpo eles
que vês quando olhas?
porque sorris?
que mundo é o teu?
olhas-me olho-te
tenho a certeza do desencontro
(torreira; regata s.paio; 2010)
retrato de uma primavera
contam com a memória
não a lembrança incómoda
mas o esquecimento de
são os senhores da guerra
e os fazedores da paz
depois de a terem deflagrado
facturam sempre e com tudo
vendem o sangue
que fizeram derramar e é negro
foram eles que inventaram
o espectáculo
que hoje denunciam bárbaro
moram sempre longe
estão sempre perto
e acreditam em deus
que não lhes perdoará
(torreira; regata do s. paio; 2012)