os moliceiros tem vela (141)


regata s. paio, 2015

em primeiro plano o moliceiro zé rito

em primeiro plano o moliceiro zé rito

vencedor: moliceiro zé rito
tripulação: zé rito; manuel rito; alfredo miranda

2º classificado: moliceiro a. rendeiro

tripulação : zé rebeço e manuel antão

3º lugar: moliceiro marco silva

tripulação: marco silva; sérgio silva e miguel silva

uma regata com pouco vento mas muita competição. a minha go pro estava montada neste moliceiro, por isso em breve teremos o vídeo da regata. haja tempo

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(torreira; regata do s. paio; 2015)

os moliceiros têm vela (140)


felicidades

tempos felizes

tempos felizes

não percas tempo
com os fragmentos
jamais refarás
o que se quebrou

tu já não és tu
nada é o que já foi
nada será o que
podia ter sido

há um começo tardio
para um final próximo
é essa a estória do depois

é tarde muito tarde
longe vão as manhãs
só te resta esperar
e reaprender os dias

felicidades

a beleza é a ternura dos dias

a beleza é a ternura dos dias

(torreira; regata do s. paio; 2012)

os moliceiros têm vela (139)


os silêncios essenciais

encontros e desencontros

encontros e desencontros

do começo
só o que te contarem
o fim
nunca o poderás contar

no entanto
nascer e morrer
são os momentos
mais importantes da tua vida

nada mais és que o intervalo
entre dois silêncios essenciais

"a vida é arte do encontro e há tanto desencontro por aí" vinicius de moraes

“a vida é arte do encontro e há tanto desencontro por aí” vinicius de moraes

(torreira; regata do s. paio; 2014)

os moliceiros têm vela (136)


a vida não é uma parábola

tempo de pensar

tempo de pensar

depois de o executarem
disseram que não era culpado

incapaz de se levantar
o executado sorriu
um sorriso de cinzas

ainda hoje quando o vento
sopra do norte
vejo-as voar e cobrir de pó
tudo quanto a sul

afinal estava tudo na bíblia
como é costume
que tudo lá cabe excepto

a vida
que não é uma parábola

tudo é efémero

tudo é efémero

(torreira; regata do s. paio; 2014)

os moliceiros têm vela (135)


para o meu amigo dr. peres

o silêncio cobre tudo, espera-se

o silêncio cobre tudo, espera-se

não sei onde está agora
aquilo que do teu corpo
em cinzas tornado foi

recordo as tuas palavras
“então e o meu amigo como vai?”
e eu ia com a tua ajuda

a música a poesia a pintura
um mundo onde habitar
era ter um amigo dentro

cuidavas mais dos outros
que de ti
talvez por isso te descuidaste
e já não és

escrevo só para te dizer
obrigado
obrigado por teres sido

um quadro para a parede do dr. peres

um quadro para a parede do dr. peres

(torreira; regata do s. paio; 2010)

lembro-me agora, meu amigo, que nunca chegámos a comer, juntos, uma caldeirada de enguias

os moliceiros têm vela (124)


boa noite

gosto da ria assim, mas a cada ano que passa, parece mais impossível

gosto da ria assim, mas a cada ano que passa, parece mais impossível

no meu peito já voaram
pássaros nuno
não me lembro quando

agora nenhum nidifica
sequer num ramo pousa

sorrio aos dias
aqueço-me numa réstia de sol
sempre que posso
nem sempre quando quero

escrevo-me devagar
nunca sei se

no meu peito já voaram
pássaros nuno
não me lembro quando

boa noite

a beleza da ria e a pobreza dos mandantes

a beleza da ria é a paixão dos moliceiros

(torreira; regata do s. paio; 2012)

lembro aqui o título do primeiro e, para mim melhor, livro de nuno camarneiro: ” No meu peito voam pássaros”. façam o favor de o ler

os moliceiros têm vela (119)


retrato de quem nele se revir

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serem os altares poucos
pequenos os palcos
para tantos artistas
com asas no peito
sem rosto visível
acrobatas do vazio

como pode ser grande um país
com tanta gente piquena
sabedora de tanto
conhecedora de muito mais
habitantes de janela

estrelas decadentes
em busca de um céu
quem sabe se debaixo
da terra que pisam

vou pela sombra
que estes sóis não são
de confiar

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(torreira; regata do s. paio; 2012)