postais da minha coimbra_20


sobre coimbra
os olhos deitam-se
e sonham o terem sido
do outro lado da rua
tem havido sempre um outro lado da rua
o sol ilumina as casas
aquece-as
as mãos buscam-no
quase o agarram
de tão próximas

do outro lado de muito mais ruas
sombrios os becos
onde se morde a fome
nas sobras de ontem
de outrem

frio medo revolta
medo revolta frio
revolta frio medo
por dentro

há sol do outro lado da rua
roubaram-no

(coimbra; r. visconde da luz)

postais da minha coimbra_19


sobre coimbra
os olhos deitam-se
e sonham o terem sido
deles direi à margem

inventaram os centros comerciais
a céu aberto
são senhores do marketing
reinam onde o dinheiro escassa

sabem onde e vão
pais do povo a quem estendem
a mão

contrafeito
numa terra onde a marca
marca quem a tem
o prazer de enganar a imagem
de desconstruir os símbolos
não enganam é mesmo feito em portugal
aqui onde quase tudo é feito na china
com marca

sorriem sempre
sorriem muito

de onde vêm para onde vão
é coisa sua
agora
estão aqui e inventam o sonho
a quem só isso resta

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