esboço do agostinho


a fotografia o esboço.

0 ahcravo_DSC_4069

torreira; agostinho canhoto; 2013

 
o tempo escrito no grito
 
os amigos estão para além
da imagem que deles fizemos
 
são muito mais que uma foto
nela apenas o que deles vemos
sentimos julgamos saber
 
o agostinho é o pescador
é todos os que têm casa no mar
que a terra é perigosa
 
o agostinho é o agostinho
a foto é apenas um pouco dele
ou melhor é ele dentro de mim
 
nada mais que um esboço
depois da obra
ti zé rebeço

ti zé rebeço


0 ahcravo_DSC8078 bw

ti zé rebeço, cais do bico; 22_06_2019

do tamanho da ria
maior que o barco
em tão pequena terra
enorme
 
a limpidez dos olhos
a clara palavra
 
falamos em silêncio
dentro do abraço
somos mais que nós
mais que agora
 
na humildade do sábio
bebo um pouco
do que nunca
nunca
serei
 
a limpidez dos olhos
a clara palavra
o HOMEM

0 ahcravo_DSC8078

ti zé rebeço, cais do bico; 22_06_2019

 

retratos de rua


0 ahcravo_Imagem 018 o fitas garreiada fig foz 2008

santo
santo santo santo
o dia em que acordo
e ainda me levanto
gosto muito de santa
apolónia e de são bento
embora entre campanhã
e oriente prefira a última
santo santo santo
é o depósito atestado
autonomia para duas
semanas duas santas
santo santo santo
és tu que me leste
sem te ter pedido tanto
(figueira da foz; 2008; “o fitas”)

 

da memória dos dias (08/03/2012)


contam histórias

ahcravo_olhares_fotog_DSCN7672 mulher eira pedrinha

povoam as aldeias
com o negro da saudade
não choram em público
não se lhes sabe a idade
nem conhecem outra cor

são o tempo que foi
nele moram

guardam-se
são a memória de
terem sido mais
na casa vazia
a solidão

esperam-se
ignoram quanto

contam histórias às crianças
enganando o tempo
(condeixa; eira pedrinha)

rostos da torreira (2)


para o zé titi

0000 ahcravo_DSC_0781 s

adormecem gaivotas na areia
sopra forte o norte
varrendo a praia
é inverno

atento caminha pela praia
busca um brilho
um pedaço perdido de verão

já houve mais diz-me
a crise também aqui se faz sentir

de poucas falas
sempre pronto a ajudar
é de terra este homem
aqui onde todos são de mar

veste-se de silêncio
difíceis as palavras

sentado num banco à beira ria
tem o tamanho do sorriso
a limpidez mais pura no olhar

chama-se zé titi

(torreira; 2010)