
a minha amiga cacilda, mulher do mar da torreira

a minha amiga cacilda, mulher do mar da torreira
a minha amiga cacilda, mulher do mar da torreira
a minha amiga cacilda, mulher do mar da torreira
contam histórias
povoam as aldeias
com o negro da saudade
não choram em público
não se lhes sabe a idade
nem conhecem outra cor
são o tempo que foi
nele moram
guardam-se
são a memória de
terem sido mais
na casa vazia
a solidão
esperam-se
ignoram quanto
contam histórias às crianças
enganando o tempo
(condeixa; eira pedrinha)
viagem
a mulher, a muleta, o arinque, o barco adivinha-se, o mar sente-se
olho e sinto
como se hoje
a caminhada começa
pelo fim
que pernas estas
os olhos
por que caminhos
me levam
o sentir
as palavras
vou e fico
viajo em mim
(torreira; 2009)
mulher
escrevo ria
com m de mulher
não menina
escrevo esta gente
nestes dias
de velas e vento
de sermos
escrevo ria
com m de mulher
e é laguna
escrevo mulher
numa bateira
e a ria sorri de
(torreira; s. paio; 2018)
maria emília
professora, natural da região de aveiro (sul), comprou em leilão, no ano de 2015, o moliceiro “S. Salvador”.
no painel da proa, estibordo, a pintura de um moliceiro e a legenda “EU SOU FELIZ AQUI”.
segundo me disse, comprou o moliceiro para passear com a família e os amigos, mas tem participado em todas as regatas desde que o comprou.
e participa como camarada.
em frente ao estaleiro do mestre zé rito, na torreira, apodrece o moliceiro do falecido manuel valas. não haverá nenhum orgulhoso de ter nascido na “pátria do moliceiro” que passe das palavras aos actos e o ponha navegar?
murtoseiros, olhem para o exemplo da maria emília.
regata do bico 2018
(participação e posição à chegada até ao 5º – classe A)
1 – A. Rendeiro
2 – Marco Silva
3 – Zé Rito
4 – Ferreira Nunes
5 – Um sonho
O Amador
Dos Netos
S. Salvador
CM Murtosa
Inobador
(penso não ter aqui qualquer falha mas, se a houver, venham ajudas que correcções farei)
(murtosa; regata do bico; 2018)
torreira
torreira é nome
de mulher
feito terra
escuto a sua voz
a camaradagem
o ser completa
torreira é o mar
os barcos
as companhas
é o rio as gentes
os saberes
o pouco de tanto
o mais por belo
que seja
vazio de corpos
é paisagem
(torreira; safar redes; 2018)
existe
existe o tempo
e o lugar onde
habita o infinito
aí os olhos
se fecham
para sentir
uma mulher safa
redes por sobre
o silêncio da ria
existe o tempo
e eu porque aqui
(safar redes; torreira; 2017)
eis a mulher da ria
eis a mulher da ria
a mãe a camarada
seja hoje dela o dia
canto nela o serem
muitas as que
ombro com ombro
braço com braço
nas bateiras
são camaradas
do seu homem
(torreira; 2009)
cacilda
escrevo devagar
o teu nome
em cada letra
bebo o mar
cacilda és uma gamelas
filha do ti chico
irmã do cipriano
cacilda
sal escamas cordas redes
norte areia
por vezes peixe
cacilda
o sorriso as palavras
poucas o corpo entregue
à faina
cacilda
és MULHER
do mar
(torreira; 2013)
ouço-te cacilda
indizível o silêncio
verbalizá-lo é negá-lo
escrevo silêncio
silenciosamente
ouço-te cacilda
mulher do mar da torreira, a cacilda
(torreira; 2016; carregar o saco)