(carregar o saco; praia de mira; 2009)
saco
crónicas da xávega (342)
uma rede incerta

torreira; 2012
morde por dentro
a incerteza dos dias
por sobre o vazio uma rede
muitas redes
alguns nós
tanto eu
morde por dentro
a incerteza dos dias
há ainda o mar e um
navio ao longe
ao longe
parte
nunca ser barco
foi tão urgente
por sobre o vazio
uma rede
incerta
crónicas da xávega (341)
sinto muito
do sentir às palavras
que o dizem
os poetas
escrevo apenas
porque é outra forma
de estar comigo
sei que não me traio
sinto muito
as palavras dos outros
sinto muito
que sejam o que são
memória_23032011
afinal temos janta

torreira; pedro caldinho; 2006
afinal ainda encontrou duas cavalas e das boas.
a janta está garantida
crónicas da xávega (338)
não há

costa de lavos; 2019
não há
caminhos solitários
há caminho
ou não
crónicas da xávega (324)
dúvida

praia da leirosa; o carregar do saco; 2019
a voz começa
onde as mãos
ou será o contrário
crónicas da xávega (316)
presunção

leirosa; lavar do saco; 2019
quando já cá não estiver
talvez se lembrem de mim
sempre a falar de mar
crónicas da xávega (314)
com as pedras

praia da leirosa; carregar o saco seco;2019
com as pedras que me atiraste
não fiz um castelo
lancei-as ao mar
e fiquei a ver como se afundavam
antes elas que eu
crónicas da xávega (308)
o poema

torreira; o recolher do saco; 2016 – irá a zorro na zorra para ser seco
se fossem música
estas palavras
seriam poema
é do poeta escrever
música com palavras
diz o que lês
como o sentes
ouve-te
porque é para ser dito
que foi escrito
como se música outra
ou
não é ainda o poema
crónicas da xávega (303)
alguns são meus amigos

o carregar do saco
não são capa de revista
não têm nome
são apenas um número
na estatística
sabe-se deles quando
à mesa peixe fresco
da costa fala do verão
são em fim de vida
o que no início alguns
voltam por ser pouca
a paga por tantos anos
parcas as reformas
deles só sei que
não são capa de revista
não têm nome
são apenas um número
na estatística
alguns são meus amigos
(praia de mira; 2009)