escrevo
talvez
hoje deixei
as certezas
as poucas
que já tive
escrevo
sabes?
não sei
se
escrevo
se
me dispo
frágil
jorge
na palma
da mão
poisa
a palavra
frágil
jorge
quebro-me
onde estarás agora nicole?
o horizonte de mar
que conquistaste
perdeste-lo no regresso
à tua terra
aí, soube, partiste de vez
no meu horizonte
nicole
fica o teu rosto
com o sorriso sempre
a família longe
o abraço
a amizade
que só os homens como tu
ofereciam
onde quer que estejas
estás aqui
(companha do marco)
no aparelho da xávega existem duas mangas: a do reçoeiro e a da mão de barca.
a primeira corresponde à cala (corda) que fica em terra quando o barco larga, a segunda corresponde à cala que o barco traz quando arriba.
a chegada das mangas a terra corresponde ao fechar do “cerco” e conclui o “arrastar para terra” que caracteriza esta arte de pesca e todas as que utilizam este método: chinchorro e xávega .
o que distingue o chinchorro da xávega é a estrutura da rede, quer nas malhagens utilizadas, quer na forma do saco
(torreira; companha do murta; 2006)
hoje é o teu dia
todos os dias
são o teu dia
mesmo que não
o saibas
mesmo que eu
não te saiba
todos os dias
são o teu dia
não sei quem és
não preciso
sei que existes
e por isso
somente por isso
todos os dias
são o teu dia
sussurra o teu nome
existes
tanto basta
para que o dia seja teu
sê nele
deixa que te fale
dos pés
dos caminhos que abrem
dos desejos que constroem
dos amores que perseguem
deixa que fale
dos pés
tão lá em baixo
de nós
tão esquecidos
porém
deixa que te fale deles
e te diga
o nome de todos os dedos
e porque nos ligam à terra
à sua parte inferior
lhe chamaram planta
trata-os com amor
e deixa que te levem
pelos trilhos invisíveis
do sonho
onde ainda é possível
seres
não mais do que isto sou
um nome
uma alcunha
vagas
vagos sonhos naufragados
barcos que nunca partiram
marés correntes e ventos
não tenho fim
o horizonte
é o ainda haver
esperança a gritar
larga !
larga !
vai ser assim
sempre
menos homens
barcos
acabaram as juntas
restamos nós