o que tu nunca lerás (IV)


ao longe, muito ao longe

 

não
não escrevo o teu nome
seria (escre)ver-te
e eu quero-te assim
para além da degradação
que o tempo sempre
traz

quero-te a menina
de há 40 anos
num baile de verão
num abraço sem tempo

trazias as palavras
que eu não sabia
ensinaste-me
” a pedra do reino”

e a jóia eras tu

não
não escrevo o teu nome
sequer o murmuro
deixo que corra pelo silêncio
o grande silêncio onde moram
as palavras nunca ditas
mas com que sonhamos
todos os dias

até sempre

a pulso se puxa a mão


a força do sexo dito “fraco”

há momentos em que as máquinas não substituem a gorça humana, na xávega este é um deles e dos mais importantes.

quando a barca “arriba” traz com ela (onde faz fixe) a “cala” “mão de barca” (corda que fecha o cerco), mal o barco encalha na areia o arrais passa-a para a companha que, em terra, a espera para a levar a força de pulso até ao alador mecânico, sem lhe dar folga ou largar; o que faria perder todo o trabalho.

é na torreira, de todas as praias de xávega que melhor conheço, que as mulheres têm um papel fundamental na arte, neste registo fica bem patente a percentagem de mulheres que dão o seu esforçado contributo ao lanço.

(torreira, companha do marco, 2011)

o calão


o calão

e o “calão” chega à praia.

calão é um pau que serve para manter a manga aberta e impedir a fuga do peixe.

segundo alguns registos (dr.ª ana maria lopes) uma das formas de distinguir o aparelho da xávega do algarve, do da costa ocidental é que nesta não havia calão. as calas (cordas) amarravam directamente às mangas.

como se pode ver pela foto nada é imutável e cá temos o calão na costa ocidental.

( da esq. para a dir. : zé caldinho, manel caldinho e ricardo pinho)

torreira, 2006, companha do arrais zé murta