se o tempo
fosse
sem ter ido
verão seria
ainda
resta a música
pendurada do sol
se o tempo
fosse
sem ter ido
verão seria
ainda
resta a música
pendurada do sol
estou nu
tremo
visto-me de ria
sorrio
sou rio
aqui onde ele
virá um dia
assim
nos braços
da música
florirá
por aí
onde houver
ainda
as carícias
digo
são palavras
tornadas
gestos
ou o inverso?
na placidez das águas
caminham
arrastam mais que o corpo
o peso do pão
cerram os dentes
apertam os punhos
sofrem
muito
porém
dançam
dizes tu que vês
e não entendes
do fundo da ria
vêm os bivalves
do fundo das gentes
forças desconhecidas já
é tempo de safar o ano
dirás que dançam
dir-te-ei que esta é outra
forma de sobreviver
—————
sobre este tema foi elaborado o seguinte projecto:
– uma descrição da arte: aparelho e modo de proceder
– um fotofilme genérico
– 6 documentários de pormenor
———–
descritivo:
a arte da cabrita baixa é utilizada para a apanha de bivalves (neste caso amêijoa japónica) de modo apeado. nela participam homens, mulheres e adolescentes.
a apanha faz-se na vazante, logo que haja calado para trabalhar, até que o mesmo se perca, já na enchente.
o aparelho é constituído por:
– haste: em eucalipto de cerca de 2 metros
– cabrita: semi-circunferência em ferro, em média com 30 dentes de 6 cm
– redenho: com malha de 35mm e comprimento variável, de 1m a 1,5m
– bóia: presa no topo do redenho
– tirante: normalmente em rede de nylon grossa, ata à cintura e prende na base da haste, é nele que grande parte do esforço assenta.
– peso: cilindro de aço ou ferro, de 5kg a 10 kg, fixado na base da haste, junto à cabrita
(peso total do aparelho: 10 a 15 kg)
acessório
vara de apalpar: com altura variável (normalmente um pouco mais de 2 metros), serve para o pescador ir vendo altura da água e comparar com a sua, ficando assim a saber, no caso de decidir iniciar a faina “por onde lhe irá dar a água”.
o cabritar:
a cabrita é atirada à ria e com o peso que tem enterra-se no fundo, depois é arrastada com movimentos de cintura enquanto os braços a mantêm o mais fundo possível.
podemos distinguir os seguintes momentos na faina:
– arrastar
– ver e lavar o redenho na ria
– levar a cabrita até à bateira, se tiver apanhado o suficiente
– deitar a cabrita na bateira, com o redenho na água
– fazer a última lavagem de limpeza na ria
– descarregar o redenho na bateira
é uma arte muito dura e que provoca problemas nos músculos dos braços – no cotovelo formam-se bolas de músculo,
muito dolorosas.
————-
fotofilme: cabrita baixa, torreira 2012
————-
documentário 1: vara de apalpar, cabritar
———
documentário 2: cabritar e cirandar a bordo
————–
documentário 3: lavar e descarregar o redenho no barco
————
documentário 4: o tirante
—————–
documentário 5: as mulheres
————–
documentário 6: a dança do cabritar
a voz
vinda de dentro
do fundo de
um ribeiro
de sons
uma boca
jorra-os
voltarei sempre