postais da ria (560)


os bárbaros vestem-se de automóveis oficiais 
seguranças aviões têm casa em paraísos fiscais

os bárbaros assassinam friamente
em nome do deus do dinheiro
sacrificam o futuro à ganância efémera

os bárbaros caminham sobre corpos
esfacelados de crianças mortas
de fome de tiro certeiro de estilhaços

os bárbaros apertam mãos abraçam
recolhem apoios de gente aparentemente limpa
com valores escondidos nos bolsos

os bárbaros mandam comandam fazem
comem em mesa farta e nada vêem para além
do prato cheio regado a sangue inocente

os bárbaros são presidentes eleitos governam
ditam leis aprovam decretos e orçamentos de guerra
fracos os cúmplices calam consentem e sorriem

os bárbaros roubam com um sorriso cândido
iludem-se patrões de um mundo sociedade anónima

os bárbaros morrerão e o seu legado será
destruição e morte negação de humanos terem sido

(corrida de chinchorras a remos; s. paio; torreira; 2018)