no remo o trovão (sentado) e o agostinho (em pé), ao motor o arrais marco
(torreira; companha do marco; 2010)
pelas 4 da madrugada o arrais vai até às dunas ouvir e sentir o mar. se estiver de feição chama a companha, agora por telemóvel, e ao raiar do dia já o barco está no mar.
são 3 os factores de que depende uma manhã de xávega:
– o estado do mar
– a qualidade e a quantidade da captura
– o preço de venda
se os 3 forem favoráveis, a companha poderá fazer até 3 lanços de manhã, o que implica trabalhar sem parar até ao meio dia, uma hora.
intervalo de hora a hora e meia para almoçar e volta-se de novo ao mar, se este o permitir. os lanços da tarde dependem, como os da manhã, dos mesmos factores.
as manhãs da xávega são longas quando se pode e se justifica pescar.
– o ti chico brandão, já falecido, foi pai de 9 filhos, a cacilda é sua filha e mulher de mar. braço de trabalho como poucos-
(torreira; companha do marco; 2010)
são estes os momentos mais dramáticos e “fotográficos” da xávega, aqueles em que procuramos um momentâneo equilíbrio entre a amizade e a
admiração dos que dentro do barco vão, e a força do mar a espumar raiva.
é uma divisão entre o espectáculo e a amizade/admiração.
para o que der e vier, com eles e com todos para que saibam como é, o imaginem pelo menos: estou lá e procuro fazer o melhor. isso lhe devo como amigo.
se as faço a eles as devo, se não as faço melhor é porque é muito difícil ser-lhes semelhante na arte.
(torreira; companha do marco; 21010)
espero
espero sempre
mesmo se não
saiba o quando
o como o porquê
é como se
um tempo outro
uma memória presente
pressentida
algo difuso
provocadoramente belo
existo
por entre
sem muitas vezes
saber como
tanto tempo assim
nada é nítido
temo quando o for
(torreira; companha do marco; 2010)
só sei de dois mares
o dos que ficam com ele
pendurado nos olhos
e o dos que só são se por ele dentro
ter o mar por destino
é ter nascido e crescido a ele igual
tê-lo ouvido rugir no berço
nas noites de nortada invernal
e esperar ansioso o dia
de com ele noivar
(torreira; companha do marco; 2010)
com esta “artimanha” o que passa no alador é a corda, deixando o calão de fora – impedindo que este se parta e trave o mecanismo.e depois a manga.
homens, mulheres, mãos, pés, todos juntos, num só.
a xávega foi, é, e será sempre uma arte de união de esforços
(torreira; companha do marco; 2010)