os dias vão lentos
carregados de outono
nas dobras das horas
tremem encolhem-se
aos primeiros frios
ser aqui
é esperar por outro verão
atravessar o tempo
embrulhado em sonhos
cobertura por vezes pouca
para peso tanto
ser aqui
é resistir
porque sim
quem sou eu
que não sei quem sou
dos tantos que em mim?
o quase em tudo
mário
(pretensiosismo esse do tudo)
o quase nada
eu
isso sim sei
as palavras quase
o estar com quase
o quase quase sempre
o que não vejo
o que não digo
onde não estou
onde estou e não
o quase tão simples de ser
o quase nada
eu
canso-me de correr e
a nada chego pleno de mim
o vazio entre tudo e
eu
o intervalo
apenas isso
as reticências para além de
o incompleto completamente
nem aquém fiquei
mário
nem aquém
não sei onde
não por aí
que cheio está esse lugar
por aqui?
mas
que aqui?
não tenho braços mário
para tanta geografia
onde todos os que
eu
abarcar quero
qual quase mário
qual quase
quase nada
eu
isso sim

desenha uma letra fá-lo com ternura as letras são sensíveis muito uma a uma vai-as desenhando e juntando como se fossem esqueleto de coisa viva as palavras são há música quando lentamente soletras as palavras a que as letras deram corpo vês têm vida as letras ouves-te no que lês? és tu por dentro delas? cada vez mais vivas as palavras sorriem-te como ninguém o sabe estás mais leve disseste-te temes porém o não teres sido ainda é esse o encanto da vida
(buarcos e era natal)
conforme combinado, a porta abriu-se e ela surgiu.
ele tremia, não estava habituado, nunca tinha.
depois de acertado tudo, ela iniciou as tarefas que constavam do contrato.
constrito ele pediu:
– já, não, preciso de festas, acaricia-me
durante algum tempo, frequentou-a, tornaram-se quase amigos e ela fez dele confidente.
depois… depois cansou-se e quando voltou a querer estar com ela, ligou-lhe, mas atendeu uma voz de homem. tinha partido e o número sido atribuído a outro consumidor.
a vida é um mundo e nem todo o mundo cabe na vida