os moliceiros têm vela (23)


como eu gosto deles

velas ao vento, pouco, deslizam

velas ao vento, pouco, deslizam

o seu lugar favorito
é a janela virada ao sol
atentos observam

de tudo bebem e se fazem
são
o repositório por excelência

rígido o corpo atento
olhos abertos
buscam a presa do dia

da janela registam
um deslize
um passo em falso
um quase erro

súbito saltam e

falo dos gatos

pinto-os e são mais meus

pinto-os e são mais meus

(torreira; regata do s. paio; setembro, 2012)

os moliceiros têm vela (20)


sabe-te

o marnoto persegue o manuel da silva

o marnoto persegue o manuel da silva

na concha das mãos
coisa pouca
quanto baste para
matar a sede

não tem dono a água
deu-a a rocha
e quedou-se silenciosa

os nomes são letras
mãos dadas
palavras

na concha das mãos
um barco
oferta de um tempo
de ninguém
porque de todos

ilusão o seres dono
tão breve é o seres aqui
depositário apenas
da memória comum

sabe-te saberás

é de norte o vento, são moliceiros

é de norte o vento, são moliceiros

(ria de aveiro; regata da ria; junho, 2014)

os moliceiros têm vela (13)


regata da ria 2014, uma análise

o bando diminui de ano para ano

o bando diminui de ano para ano

realizou-se no dia 29 de junho, a regata anula de moliceiros entre a torreira e aveiro, promovida pela “Comunidade Intermunicipal da Ria de Aveiro”.

os prémios definidos pela organização foram os seguintes:

1- participação: 600 euros para todos os barcos (grandes e pequenos)

2- pinturas:  300; 250; 200;150;100 (consoante a classificação)

3 -regata : 150; 100; 50 (por ordem de chegada)

ou seja, um moliceiro que participasse, ganhasse o prémio de pintura e chegasse em primeiro lugar, fazia o pleno dos prémios e ganhava 1050 euros.

se pensarmos que estamos em dezembro e ainda ninguém, que seu saiba, recebeu alguma coisa, o Manuel Antão que o diga, tendo ainda em conta que, dando o dono do barco a mão de obra, para pagar matérias primas e pagar a pintura, a despesa ronda os 1.500 euros por barco…. se pensarmos nisto, a regata é financiada pelos donos dos barcos e aproveitada pelos do costume.

barcos que participaram, posição à chegada e tripulação:

1º A. Rendeiro

tripulação : José Rendeiro, Rebeço,  (74 anos); Marco Silva (38) e Manuel Antão (63)

2º Dos Netos

tripulação: Abílio Fonseca, Carteirista (76 anos); José Rebelo, Papa-lamas (30); António Salgado (59 anos)

3º Manuel Silva

tripulação: Zé Pedro (14 anos); João Rodrigues (26 anos); Rui Rodrigues, Índio/Russo (23 anos)

4º Zé Rito

tripulação: José Vieira, Rito (58 anos); Manuel Vieira (50 anos)

5º C. M. Murtosa

tripulação: José Caneira (76 anos); José Formigo (60 anos)

sem prémio de chegada

Manuel Vieira

tripulação: Manuel Vieira, Valas (59); Carlos (52)

Marnoto

tripulação; Domingos Marnoto (62 anos); Amadeu Ferreira (51 anos); António Duarte (61 anos)

O Amador

tripulação: Felisberto Amador, Caçoilo (55 anos); Sérgio Amador (42 anos)

Barcos pequenos (9 metros)

Pequenito

tripulação: Manuel Valente, Vareiro (61 anos); Soares (46 anos); Pedro Reis (33 anos)

Cristina e Sara

tripulação: Virgílio Gonçalves (76 anos); Nelson Lopes (35 anos)

vejam as idades dos tripulantes e ficam com uma ideia do futuro das regatas, se nada for feito para motivar os mais jovens.

era uma vez as regatas da ria . . . . , muito em breve

só se dermos as mãos, todos

só se dermos as mãos, todos

(ria de aveiro; regata da ria; junho, 2014)

os moliceiros têm vela (8)


a mensagem de protesto de 2012, ainda perdurava na regata de 2013

a mensagem de protesto de 2012, ainda perdurava na regata de 2013

pior que não se lembrar do passado

é não ter passado para lembrar

não matem os moliceiros

o  moliceiro "dos netos", do ti abílio carteirista, ainda com a faixa do protesto de 2012

o moliceiro “dos netos”, do ti abílio carteirista, ainda com a faixa do protesto de 2012

(ria de aveiro; regata 2013)

os moliceiros têm vela (4)


moliceiros, homens e barcos

o erguer dos mastros nos moliceiros do ti zé rebeço e do mestre zé rito

O barco moliceiro, ex-libris lagunar (continuação)

Dra Ana Maria Lopes

O espaço central dos painéis é (era) sempre acabado de preencher com arabescos ou com um motivo floral: flor, vaso geometrizado ou ramo mais ou menos esguio. À medida que se aproximam da periferia, as decorações tornam-se mais geometrizadas, terminando por três tipos de frisos estilizados. Estes conseguem-se através de uma combinação diferente de traços sobre um padrão comum, formado por círculos de dois tamanhos, desenhados sobre uma linha recta.

Dois deles lembram o roliço das conchas, o terceiro, talvez inspirado pelo movimento das águas intercalado com fragmentos de moliço, é normalmente preferido para a zona que vai dos golfiões à bica da proa, esta, sempre de cor vermelha.

Feita a homenagem aos elementos marítimos, o elemento rural não podia faltar – são as flores campestres, simples e estilizadas, repetidas ou alternadas, que servem de motivo inspirador. A ornamentação marítima, geometrizada, tem sido muito mais conservadora. A campestre, fruto de uma busca de perfeccionismo e originalidade de alguns pintores, foi evoluindo e assim acontece até aos dias de hoje.

O espaço central do painel ocupa lugar privilegiado, pois é aí que os artistas têm expressado ao longo dos tempos um vasto repertório de imagens e acontecimentos.

A decoração do barco também tem evoluído. E, de figuras simples enquadradas por contornos, o motivo passou a ocupar toda a área, tendo vindo a pormenorizar-se o cenário.

As temáticas, variadíssimas (amorosas, religiosas, patrióticas, históricas, desportivas, ecológicas, festivas, folclóricas, sociais, campestres, marítimas, heráldicas, brejeiras), não são estanques e a brejeirice é quase sempre transversal a todos os painéis. Excepto nos mais respeitadores.

A imagística do moliceiro tem acompanhado a evolução dos tempos: a presença da televisão, da mini-saia, da integração da C.E.E., do euro, o apelo à limpeza e defesa da ria, a saudade dos tempos antigos, a problemática da arte xávega, do alcoolismo na condução, a doença das vacas loucas, a crise, a austeridade, a corrupção, a tróica, concursos televisivos, comprovam-no. Inclusivamente, um ou outro acontecimento mais relevante em determinado ano permite datar a decoração do barco: a Expo 98, o V Centenário da Descoberta do Brasil (2000), os Campeonatos Europeu e Mundial de Futebol (2004 e 2006), a selecção das Sete Maravilhas do Mundo (2007) e outros

(a continuar)

(os moliceiros do mestre zé rito e do ti zé rebeço)

não deixem morrer os cisnes da ria


o esplendor dos cisnes da ria, íntegros

o esplendor dos cisnes da ria, íntegros

esta foi uma das duas fotos, ” a escolha da redacção”, a publicadas na revista “national geographic portugal”, no número de dezembro, já nas bancas

a legenda da foto, da responsabilidade da redacção, é a seguinte:

 Ahcravo Gorim  Aveiro, Portugal

Uma regata de moliceiros na ria de Aveiro foi o pretexto para o fotógrafo utilizar o preto e branco como técnica dramática. Ahcravo Gorim, deu o título à imagem: “Não deixem morrer os cisnes da ria ” 

depois do meu post de ontem sobre o que poderá vir a ser, ou já será, a nova “marca/imagem” do município da murtosa (a pátria do moliceiro), e o modo como decorreu todo o procedimento que conduziu à sua elaboração, a publicação desta foto, na revista national geographic portugal, acho que fala por si.

o tempo/a história, escreverá com letras de pedra, a triste estória que relatei, e não esquecerá os seus autores.

relembro uma frase célebre: “roma não paga a traidores”.

VIVAM OS MOLICEIROS !!!!!!!!!!!!!!

postais da ria (37) – os moliceiros sempre


junho vai longe e os donos dos barcos ainda não receberam os prémios ..... não os matam, mas sufocam-nos

junho vai longe e os donos dos barcos ainda não receberam os prémios ….. não os matam, mas sufocam-nos

será sempre verão
quando maduras as palavras
te falarem de mim

voarei ainda nos braços líquidos
que por entre terra e mar
caminhos meus

dizer de mim o ter sido é
falar de gentes e costumes passados
é dizer-te as raízes de ti

roma não paga a traidores
como queres que eu?

(assinado: moliceiro)

foram os donos dos moliceiros que pagaram o tempo de antena. " ... cantando e rindo/levados, levados sim"

foram os donos dos moliceiros que pagaram os tempos de antena. ” … cantando e rindo/levados, levados sim”

(ria de aveiro; regata da ria, 2014)

do meu amigo Manuel Antão, membro da equipa que ganhou a regata da ria 2014, em 29 de junho, aqui fica um desabafo

” VAMOS nós navegando nas águas calmas da RIA mas por vezes onde essa calma nos traz agonia não é berço nem quadra antes fosse é só para dizer que esta mesmo regata AVEIRO WEEKEND JUNHO 28 / 2014 .TANTA propaganda na RTP canal 1 de televisão no programa do nosso AMIGO FERNANDO MENDES no preço certo aproximadamente uma hora onde falou na RIA DE AVEIRO DOS MOLICEIROS DO HOTEL MOLICEIRO ELE PRÓPRIO ANDAR NOS MOLICEIROS NOS OVOS MOLES DE AVEIRO E QUE AVEIRO ERA A VENEZA DE PORTUGAL enfim uma boa em tudo para a CIDADE DE AVEIRO E TURISMO DE PORTUGAL o pior é que isto foi como já disse em JUNHO e o resto que é o tal DINHEIRO ainda não veio alguns em pintar os barcos gastaram 600 euros ou mais outros partiram o mastro e esta gente que organizou ainda nem uma só palavra nos deram SERÁ QUE ELES JÁ PAGARAM AO NOSSO AMIGO FERNANDO MENDES POR ENGANO ?..”

postais da ria (33)


o fim está tão próximo quanto a vitória

o fim está tão próximo quanto a vitória

nada dizer

nem todos os dias são
muitos haverá em que
tu sabes
não pode ser
sempre nem nunca

sê no dia em que não
o mesmo que noutro dia qualquer
a razão encontra-la-ás se
razão houver mas
não será por isso

pelo que és
pelo que sonhas
pelo que queres que seja
vai

porque nada é o que

a vitória está tão próxima como o fim

a vitória está tão próxima como o fim

(ria de aveiro; regata da ria, 2014)

postais da ria (30) – um dia falarei das pedras


ainda os cisnes voam

ainda os cisnes voam

faço-me no caminho
que faço
cúmplices efémeros
neste fazer-mo-nos

escuto o vento por
vício
abro-lhe os braços
o corpo
vou por onde

em tudo somos
o início
a recusa de ficar
ser lago

somos os dias
e os dias são imensos
porque nós neles
desencaminha-mo-los

um dia falarei das pedras

ahcravo_DSC_1223_bando dos 4

(ria de aveiro; regata da ria, 2014)

postais da ria (26)


ria de aveiro; regata da ria, 2014

ria de aveiro; regata da ria, 2014

a propósito o moliço

chamam-se moliceiros
porque à apanha de moliço
homens e barcos corriam a ria
que as terras férteis consumiam

colhiam-no do fundo
e era mais caro na venda
se à superfície dele se dizia
arrolado
misturado com lodo secava
nos cais
e era vendido a preço mais baixo

no mesmo catálogo
digo hoje dos amigos
dos do fundo
dos que ainda do fundo
me fertilizo e ganho os dias

aos arrolados
estou velho demais
para com eles
ahcravo_DSC_1273_manuel vieira+felisberto bw