os moliceiros têm vela (53)


do silêncio

"NÃO MATEM OS MOLICEIROS", no moliceiro "dos netos", do ti abílio, usada no protesto contra o cancelamento da regata da ria, no mês de julho

“NÃO MATEM OS MOLICEIROS”, no moliceiro “dos netos”, do ti abílio, usada no protesto contra o cancelamento da regata da ria, no mês de julho

escrevo silêncio
para que não o seja
mesmo que não ouças
não as leias
as palavras ouvem-se

há nãos a mais
nestas linhas poucas
onde nada
absolutamente nada
acontece para além

de silêncio escrito
não o sentes?

em 2012 o grito era este. continuam a deixá-los morrer

em 2012 o grito era este. continuam a deixá-los morrer

(murtosa; regata do bico; 2012)

os moliceiros têm vela (45)


ora batatas

vai haver vento

vai haver vento

cultivam as palavras
como se agricultura diversa
no engano de ser verde
a esperança gerada

falam bem dizem muito
calam quase tudo
vencem pelo que não dizem
não prometem
logo não é cumprir é normal

servem-se do medo como arma
do hábito
nascem vitórias como repolhos

ora batatas para tais palavras

houvesse vento em terra ...

houvesse vento em terra …

(murtosa; regata do bico; 2010)

os moliceiros têm vela (44)


renasço quando sonho

navegam ainda em mim

navegam ainda em mim

vieram por todos os caminhos
líquidos da memória
voavam no amanhecer do tempo
no mais fundo da memória

abracei-os como se irmãos
perdidos há muito
em terra minha deixada

renasço quando os sonho

o sonho não morreu

o sonho não morreu

(murtosa; regata do bico; 2007)

os moliceiros têm vela (41)


fruto e semente

o tempo

o tempo

como tudo é frágil
e se quebra
por entre o fragor
dos dias

de água a memória
escorre
de pedra fora e não

dou-vos palavras
palavras palavras
e não digo nada
sinto tudo como se

somos
fruto e semente

toda a beleza é o instante em que

toda a beleza é o instante em que

(murtosa; regata do bico; 2007)

os moliceiros têm vela (40)


de bico amarelo

cá te espero

cá te espero

belas palavras
finos discursos
atentos abraços

o silêncio
quando necessários
os braços

ai senhores que tanto
prometeis
para nos enganardes

belas palavras
finos discursos
atentos abraços

de bico amarelo
na armadilha
os embaraços

pássaros muitos

que ria sem eles?

que ria sem eles?

(murtosa; regata do bico; 2010)

os moliceiros têm vela (37)


coisas da terra

há-de ser .... há-de ser

era bom que fosse …..  virá o vento e ….

sou da terra
logo posso

(e não há regras
princípios termos)

sou da terra
logo dono
senhor de tudo
tudo me deve
ser permitido

(e não há regras
princípios termos)

vinde vós
que tiráveis o chapéu
e saudáveis todos
com a palavra certa
o coração aberto
chamo-vos porque
sois a memória
os valores sobre que
tudo se ergueu

estranharíeis esta gente
estranharíeis este povo

por isso
ser daqui é por vezes
ser do contra

por ser da terra
e nela ter aprendido
a sê-lo de facto

fico como vou

mesmo assim, sempre belo

mesmo assim, sempre belo

(murtosa; regata do bico; 2012)