joão da calada


joão da calada

nunca lhe soube o apelido, só a alcunha.

muito do que sei, devo-o a ele. técnicas de pesca de xávega, identificação de pescadores …. sei lá.

dono e arrais do barco que foi o primeiro amor, o “óscar miguel”, que infelizmente veio a ser queimado. era um belíssimo barco, feito pelo mestre gadelhas de mira.

antes disso tinha trabalhado com a robaleira “srª da conceição”.

arrais de velha cepa, mantinha a tradição antiga de cada dono de barco ter uma “tasca” onde os pescadores se aviavam, ainda hoje a tasca existe, na rua mais ao sul da torreira e é ponto de encontro de antigos pescadores. ir à torreira e não visitar o joão da calada é perder o que de mais tradicional ainda existe no ramo.

hoje o joão divide-se entre a tasca e o reparar das redes da companha do pepolim, que trabalha ao sul do molhe sul da torreira e de que é arrais o chico “de ovar” como é conhecido na torreira.

um abraço joão

(torreira_anos 90)

assim se vêem os heróis do mar


o barco de mar óscar miguel – torreira anos 90

 

é este o momento

do início

(e quantos tempos nele cabem …)

o arrais lê o mar

estuda a matemática das ondas

calcula-lhes o ritmo

as correntes e os seus caminhos

tensos

homens e animais

aguardam a ordem

o grito claro forte

sem dúvidas de espuma nos lábios

VAI ! VAI ! VAI !

e o barco pula salta

galga mais uma onda

avança

e pára de novo

a cena repete-se

tantas vezes quantas o arrais

achar

é dele o mando

até que

num arranco último

o barco

vence a rebentação

e parte

por sobre o mar

é este o momento

do início

em que tudo pode acabar

a breve, muito breve, sesta


luciano caravela; 2010

é um costume entre os pescadores da xávega, que os que cheguem mais cedo para o primeiro lanço da tarde, cerca das 13h, 13,30h, aproveitem para uma pequena sesta à sombra do barco ou dos atrelados.

na torreira e na praia de mira, praias de grande tradição nesta arte de pesca, é comum encontrarem-se pescadores deitados enquanto o arrais não chega.

( torreira_ companha do murta)

linda tareca


                                                          linda tareca; 2005

linda tareca

uma das características dos homens e mulheres da xávega, apesar da dureza da vida, é a sua permanente alegria e propensão para a brincaderia.

a linda é casada com o alberto trabalhito (trovão), e os dois são um dos casais de pescadores mais castiços da torreira.

da brincadeira ao braço de trabalho, da zanga ao apaziguamento, tudo com ela termina em bem.

mais do que uma vez pedi ao casal que se beijassem para a fotografia, a lina não se fez rogada mas o trovão é mais envergonhado.

ambos trabalham na companha do marco

(torreira)

popola


 

SONY DSC

popola; 2010

nunca lhe soube o nome e há anos que o conheço.
é um coração de criança num corpo de homem. um amigos do seus amigos, mas primeiro dos seus sobrinhos.

braço de trabalho e capaz de ir a todas: ao mar, ao alar, ao aparelhar, ao escolher peixe; todas faz sempre com um sorriso nos lábios e, se puder uma pose para a fotografia.

neste registo está lavar-se com água do mar depois de se ter enchido de escamas a escolher peixe.

(torreira_companha do murta_2010)

zé monteiro


                                                             zé monteiro; 2010

dono da companha da barca de mar s. josé, da praia de mira.

como a grande maioria dos pescadores da xávega – a que localmente chamam “artes” -, foi homem da pesca do alto, faz muitas campanhas de bacalhau e, depois de reformado, dedicou-se à arte que o viu nascer

(praia de mira)