lavrar o mar


praia de mira_companha do zé monteiro

praia de mira_companha do zé monteiro

 

já foi tempo de serem os homens, vieram mais tarde os bois

agora é tempo de tractores, a agricultura essa, é a mesma que o francês, ferdinand dennis, tão bem descreveu e que raul brandão citou no livro “os pescadores”

“– Que estranho país é este onde os bois vão lavrar o próprio oceano?”

(praia de mira; companha do zé monteiro”

espera


 

s. josé

s. josé

 

 

aqui onde o mar é tudo

que eu em terra

este varado

sequer poiso de gaivotas

nada

nada: é ser isto

 

um barco

é coisa feita para mar e ondas

gritos e sobressaltos

viagens mesmo se quase ali

 

não

não esta coisa deitada à espera

do sol

dos homens

 

à espera de ser

 

(praia de mira; companha do zé monteiro; barco de mar s. josé)

até quando?


(praia de mira; 2009)

que dizer-vos
destes tempos em que assisto
a tentativas sucessivas
de assassinato
da memória?

que dizer-vos
da raiva angústia
desespero
destas gentes
que são as as minhas
que são as nossas
que somos nós?

quem seremos
amanhã
se nos querem roubar
o hoje
o ontem?
 
quem seremos
amanhã
se nos querem roubar
o sermos?
 
o povo será sereno
mas até a serenidade
tem limites

até quando?