a ramos rosa
estou vivo e escrevo
guerra
uma bomba caiu
dentro do poema
palavras estilhaçadas
mortas amputadas
é vermelho
o sangue das palavras
há letras perdidas
irreconhecíveis desaparecidas
é vermelho
o sangue das letras
estou vivo e escrevo
morte
(kite surf; mamaparda; 2013)
a zeca afonso
negros bairros negros
escombros onde paira
a pegada dos mortos
negros bairros negros
poças de lágrimas
jardins de valas comuns
negros bairros negros
por dentro das pedras
das crianças das mães
negros bairros negros
(kite surf; mamaparda; bunheiro; 2013)
gaza
g de genocídio
a de amputada
z de zombie
a de arrasada
(kite surf e bodyboard; mamaparda; bunheiro; murtosa; 2013)
poema para este tempo
há descendentes do holocausto
entre os carniceiros de gaza
(kite surf; mamaparda; bunheiro; 2013)
poema para este tempo
sou português
penso em português
escrevo em português
NÃO ESTOU COM ISRAEL
(kite surf; wind surf; bunheiro; 2013)
um a um subo
os degraus
do poema
cato palavras
íngreme
interminável
acabo como
comecei
escrevo
gaza sangra
gaza sangra
gaza sangra
(kitesurf; windsurf; bunheiro; 2013)
o poeta benzia-se
e não acreditava em deus
o poeta rezava
e não acreditava em deus
era segunda-feira
o poeta foi em peregrinação
à feira de espinho
deus estava no casino
ganhava milhões
na roleta de combustível
o poeta não se converteu
e deus não lhe vendeu
serviços de auditoria
deus não acreditava
no poeta
(ria de aveiro; bunheiro; 2013)
quisemos tanto
deram-nos pouco
tiram-nos tudo
(bunheiro; kite surf; 2013)
as crianças
brincam a destruir
para conhecer
crescem a aprender
os homens
arrasam casas e ruas
na ilusão de apagar
a história
o ódio alimenta o ódio
sangue
os mortos mais mortos
pedirão
quem escolheste tu
povo escolhido
quem escolheste tu
(kite surf; clube nortada; bunheiro; 2013)
a ria radical
património imaterial
até nem estava mal
ilusão por ilusão
ficava tudo igual
(kite surf; bunheiro; murtosa; 2013)
ahcravo gorim Blog 