postais do arroz (21)


não escrevo
guardo

em branco
fica tudo
defraudo
o plagiador
obrigo-o
a plagiar
o meu silêncio

aí sim
ele é perfeito
quem não vê
a luz
são palavras
talvez um poema
hipótese remota

ganhei a batalha
daqui ninguém rouba nada
porque nada escrevi

o plagiador ganhou
a poesia talvez não tenha perdido
nada mas é assim hoje

(semear arroz; borda do campo; 2019)

postais do arroz (12)

postais do arroz (12)


arroz, o oiro do baixo mondego (sementeira manual em zona não emparcelada)

falo ainda das mãos
quando tas dou
em silêncio

sim
no silêncio mais íntimo
onde mãos com mãos
se dizem
o que palavras
jamais

falo ainda das mãos
falarei sempre
condenação
de as ter

borda do campo; 2019

postais do arroz (7)


digo-te

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borda do campo; rio pranto; corrida das barcas; 2019

digo-te que existo
mais nos espaços em branco
onde me escondo
que neste juntar de palavras
em que pretensamente
me vou dizendo
na corrida sôfrega dos dias
gasto-me de tanto sentir
nada mais
te posso oferecer