os moliceiros têm vela (132)


regata do bico 2015

o

o “zé rito” de pois de passar a meta em primeiro lugar

na regata de hoje, no cais do bico, o vencedor foi o moliceiro “zé rito”.

a lista dos cinco primeiros, conforme pude perceber, perdoem-me se falhar em algo, mas a confusão foi muita:

nome dos barcos

1- zé rito
2- marco silva
3- a. rendeiro
4- sermar
5- manuel vieira

pouco vento, muita força de maré, e a posição da bóia de nascente, deram origem a uma regata difícil para os concorrentes mas de grande beleza para os assistentes.

parabéns a todos os participantes e, em particular, aos 5 primeiros.

participantes, nome dos moliceiros

– o amador
– dos netos
– a. rendeiro
– marco silva
– zé rito
– câmara da murtosa
– manuel vieira
– sermar
– ecomoliceiro
– cristina e sara

cada ano menos

quando o vento apareceu ainda deu para este bordo

quando o vento apareceu ainda deu para este bordo

(murtosa; regata do bico; 2015)

os moliceiros têm vela (74)


ausente

ahcravo_DSC_6788 regata moliceiros bico bw

o rosto parado
a expressão ausente
o corpo prisão

resta o que resta
não será muito nem pouco
tão só o que ainda

perdido o sorriso
na voz treme a solidão
ouve-se o medo

é ensurdecedor

ahcravo_DSC_6788 regata moliceiros bico

(murtosa; regata do bico; 2009)

os moliceiros têm vela (19)


amor longe

só o vento os leva, na memória ficam

só o vento os leva, na memória ficam

é de longe
que a terra se sente
mais íntima
mais nossa

não estranhes pois
este amor
que se estende por um tempo
onde não habitas
porque

foste dos que ficaram

serão sempre belos e muitos, assim queiramos

serão sempre belos e muitos, assim queiramos

(ria de aveiro; murtosa; bico)

os moliceiros têm vela (16)


da fotografia

a dança dos cisnes

a dança dos cisnes

onde andam agora os que
da terra a memória serão
de tantos olhares gravados

máquinas muitas prontas
a registar a festa da ria
o bailado dos moliceiros
voando como nunca
porque  sem carga

onde andam agora as imagens
roubadas ao tempo
para nos serem ofertadas um dia?

fotografar não é
procurar a beleza e guardá-la
para concursos negócio ou
gozo próprio narcísico

fotografar é um comprometimento
com o sentir de um tempo
com as gentes que nos olharam e pensaram

amanhã vou lembrar-me de hoje

enchem-se os olhos e a memória sorri

enchem-se os olhos e a memória sorri

(murtosa;regata do bico; 2012)

os moliceiros têm vela (10) – de mim


o manuel silva chega ao bico para mais uma festa do emigrante, verão 2012

o manuel silva chega ao bico para mais uma festa do emigrante, verão 2012

Que importa perder a vida

em luta contra a traição,
se a razão, mesmo vencida
não deixa de ser Razão”

antónio aleixo

(murtosa; cais do bico; 2012)

(murtosa; cais do bico; 2012)

há muito que soltei amarras
de cais seguros
o meu andar é o meu caminho
sempre o meu

venham os que assim quiserem
deixem-me os que não
aceito dos amigos a palavra
o abraço não o silêncio
mesmo se

serei barco até um dia
o dia em que
serei mar por já não ser

até lá serei sempre eu

os moliceiros têm vela (5)


em 2007 era assim, no bico

em 2007 era assim, no bico

O barco moliceiro, ex-libris lagunar (continuação)

Dra Ana Maria Lopes
A galeria de tipos é quase infinita.

O rapaz e a rapariga em situação de trabalho e/ ou em relação amorosa plena de malícia contrastam com o galã e vampe enamorados.
Com maior ou menor grau de flexibilidade, mais ou menos de acordo com «a escola» do pintor e o seu grau de sensibilidade, todos os painéis sobrantes estão dentro dos cânones da pintura de moliceiros: motivo central, sublinhado por uma legenda e emoldurado por frisos geometrizados.

Na retina, ficam as cores puras e luminosas: o amarelo, o verde, o azul, o vermelho, o branco e o preto; as gamas intermédias aparecem só num ou noutro pormenor. Tem-se evoluído muito, neste aspecto, como já referimos.

Este conjunto de cores é igualmente usado noutros artefactos locais – as cangas vareiras.

Foi a decoração do moliceiro que influenciou a da canga? Ou, pelo contrário, a da canga que influenciou o moliceiro?

Segundo nosso entender e o de outros – 6 – estudiosos, ambos reflectem a opulência económica da classe dos lavradores muito ligada ao poder político local, nos séculos XVIII e XIX.

Pela vibração cromática, pelos contornos bem marcados, por um figurativismo de planos frontais, pela ingenuidade, pela adaptação do desenho à superfície, pelo recurso a temas do quotidiano, os painéis dos moliceiros constituem exemplos belíssimos de pintura «naïf» concordantes com as quatro legendas sistemáticas plenas de graça -7-.

Normalmente, estas são
inscritas numa estreita faixa branca ou rósea, situada na parte inferior do painel entre o friso e o motivo principal.

Os grafismos usados foram mudando desde a letra minúscula à maiúscula, alternando-a ou misturando-a, manuscrita ou tipográfica.

Tendo acompanhado a construção desta embarcação junto do Mestre Esteves, no seu estaleiro, sempre tivemos a preocupação de que os métodos construtivos e os materiais utilizados fossem o mais tradicionais possível. E com a decoração, aconteceu o mesmo junto do pintor, o José Manuel Oliveira, respeitando o seu estilo. Defende e pratica a mesma linha pictórica com que debutou desde o final dos anos 80, vai acompanhando nos seus painéis os eventos que se vão sucedendo, usando igualmente a diversidade de temas a que estávamos habituados. Não põe completamente de lado o tradicionalismo do painel da proa a BB, reinventando-o. O Zé Manel impôs-se como o mais famoso, produtivo e inovador pintor de painéis de moliceiro.

(a continuar)

-6- Senos da Fonseca, obra já citada, p. 164, Porto, 2011.

-7- Ana Maria Lopes, Moliceiros – A Memória da Ria, 2ª edição. Âncora Editora, Lisboa, 2012.

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(murtosa; bico; regata moliceiros; 2007)

a murtosa não é a pátria do moliceiro?


o "António Garete" a navegar, na regata do bico de 2007

o “António Garete” a navegar, na regata do bico de 2007

– a propósito de uma publicação do rui cruz, na sua página do facebook – 

(Kiss – keep it simple stupid ou kill it simply stupid

tradução: faz simples estúpido, ou, mata-o simplesmente estúpido)

as siglas dão para muita coisa, haja imaginação e, sem ela, não há técnica, nem design, que resista.

vem isto a propósito de uma a análise técnica de “design” de rui cruz sobre o “novo” logotipo do Município da Murtosa. há argumentos técnicos para tudo, mas os melhores são os que são tão técnicos, tão técnicos, que parecem só isso. ora a técnica não é algo de intocável, está na moda recorrer a “independentes” na política e à “técnica”, para que tudo pareça limpo de influências de quem manda, melhor ou pior.

mas será só a técnica de design que justifica o logotipo? em termos de design seguiu as regras, logo está bem. é um raciocínio simples e redutor, um raciocínio kiss. mas, digo eu, no caso da marca/logotipo de um município, ser só um designer a decidir é muito pouco ou quase nada, dada a importância que a imagem carrega em si mesma. será que não deveriam ser ouvidos pareceres de outras áreas? se a murtosa á pátria do moliceiro o logotipo pode ser um barco qualquer? veja-se o logotipo do município de aveiro, simples, sim, mas vê-se que é um moliceiro.

LogoAveiro

um argumento técnico, de um técnico da área em causa, e …. lá se vão os argumentos dos não especializados. quantos crimes se cometem em nome da técnica? a começar no ambiente por exemplo, sempre muito sustentados por argumentos técnicos. não é verdade rui cruz?

mas, continuemos, para ilustrar a sua teoria, o rui cruz diz que há barcos moliceiros a navegar sem vela e mostra o moliceiro “António Garete”, varado num ancoradouro. bom, se isto é navegar…. entendo. navega, sim, como na foto, que aqui insiro, na regata do bico em 2007. infelizmente o “António Garete”, se ainda não foi destruído, navegará agora, provavelmente, no canal de aveiro, com outros amputados, sem mastro nem vela.

em resumo, e sem abordar ainda as questões metodológicas e legais subjacentes a todo o procedimento, queria deixar aqui uma palavras de um designer da murtosa :

“ ….talvez fosse de interesse da comunidade marinhoa, a edilidade lançar um repto a todos aqueles que ligados ou não ao design cá na nossa Santa Terrinha pudessem colaborar, apresentando um esboço do que poderia vir a ser a nova “marca” do município da Murtosa. Após selecção e escolha do melhor trabalho, feita pela assembleia municipal, o departamento competente na câmara deveria abrir concurso para as empresas de design interessadas desenvolverem o trabalho pretendido baseadas no referido esboço. Essa nova “marca” teria certamente um cunho mais comunitário, mais democrático, “mais nosso”.Para terminar seria injusto não referir que a empresa referida como estando a trabalhar no projecto, é competente e tem capacidade para desenvolver um trabalho criterioso. “

é um parecer técnico, e não só, de um designer. talvez assim seja mais fácil de entender que a técnica só por si não justifica tudo.

lutar hoje contra a extinção dos moliceiros, é de facto o mais importante, temos visto o que as autoridades locais e regionais têm feito, e o que têm feito os que isto afirmam. este é também um tipo de argumento muito utilizado para desviar as atenções da discussão de um caso particular: falar no geral. parece que estamos a perder tempo nestas discussões de pormenor, que não o são, enquanto deixamos passar o fundamental. é assim que nada se faz, dizendo que há coisas mais importantes a fazer.

não há polémicas em vão, há é silêncios convenientes.

navegar é preciso

navegar é preciso

(murtosa; regata do bico; 2007)