
o “António Garete” a navegar, na regata do bico de 2007
– a propósito de uma publicação do rui cruz, na sua página do facebook –
(Kiss – keep it simple stupid ou kill it simply stupid
tradução: faz simples estúpido, ou, mata-o simplesmente estúpido)
as siglas dão para muita coisa, haja imaginação e, sem ela, não há técnica, nem design, que resista.
vem isto a propósito de uma a análise técnica de “design” de rui cruz sobre o “novo” logotipo do Município da Murtosa. há argumentos técnicos para tudo, mas os melhores são os que são tão técnicos, tão técnicos, que parecem só isso. ora a técnica não é algo de intocável, está na moda recorrer a “independentes” na política e à “técnica”, para que tudo pareça limpo de influências de quem manda, melhor ou pior.
mas será só a técnica de design que justifica o logotipo? em termos de design seguiu as regras, logo está bem. é um raciocínio simples e redutor, um raciocínio kiss. mas, digo eu, no caso da marca/logotipo de um município, ser só um designer a decidir é muito pouco ou quase nada, dada a importância que a imagem carrega em si mesma. será que não deveriam ser ouvidos pareceres de outras áreas? se a murtosa á pátria do moliceiro o logotipo pode ser um barco qualquer? veja-se o logotipo do município de aveiro, simples, sim, mas vê-se que é um moliceiro.

um argumento técnico, de um técnico da área em causa, e …. lá se vão os argumentos dos não especializados. quantos crimes se cometem em nome da técnica? a começar no ambiente por exemplo, sempre muito sustentados por argumentos técnicos. não é verdade rui cruz?
mas, continuemos, para ilustrar a sua teoria, o rui cruz diz que há barcos moliceiros a navegar sem vela e mostra o moliceiro “António Garete”, varado num ancoradouro. bom, se isto é navegar…. entendo. navega, sim, como na foto, que aqui insiro, na regata do bico em 2007. infelizmente o “António Garete”, se ainda não foi destruído, navegará agora, provavelmente, no canal de aveiro, com outros amputados, sem mastro nem vela.
em resumo, e sem abordar ainda as questões metodológicas e legais subjacentes a todo o procedimento, queria deixar aqui uma palavras de um designer da murtosa :
“ ….talvez fosse de interesse da comunidade marinhoa, a edilidade lançar um repto a todos aqueles que ligados ou não ao design cá na nossa Santa Terrinha pudessem colaborar, apresentando um esboço do que poderia vir a ser a nova “marca” do município da Murtosa. Após selecção e escolha do melhor trabalho, feita pela assembleia municipal, o departamento competente na câmara deveria abrir concurso para as empresas de design interessadas desenvolverem o trabalho pretendido baseadas no referido esboço. Essa nova “marca” teria certamente um cunho mais comunitário, mais democrático, “mais nosso”.Para terminar seria injusto não referir que a empresa referida como estando a trabalhar no projecto, é competente e tem capacidade para desenvolver um trabalho criterioso. “
é um parecer técnico, e não só, de um designer. talvez assim seja mais fácil de entender que a técnica só por si não justifica tudo.
lutar hoje contra a extinção dos moliceiros, é de facto o mais importante, temos visto o que as autoridades locais e regionais têm feito, e o que têm feito os que isto afirmam. este é também um tipo de argumento muito utilizado para desviar as atenções da discussão de um caso particular: falar no geral. parece que estamos a perder tempo nestas discussões de pormenor, que não o são, enquanto deixamos passar o fundamental. é assim que nada se faz, dizendo que há coisas mais importantes a fazer.
não há polémicas em vão, há é silêncios convenientes.

navegar é preciso
(murtosa; regata do bico; 2007)