das mãos
tenho pelas mãos
a paixão
de serem elas
olho-as e vejo-as
sinto nelas
os olhos sorrirem
(torreira; companha do marco; 2013)
o arribar da rede
a rede começa no calão: o stalone, rapaz alto, robusto e de muito músculo (vê-se na foto), agarra-o mantém-o rente ao chão
a seguir, o horácio, já amarrou à manga, o cabo de corda que servirá para que o calão passe ao lado do alador, para não se quebrar nem parar o alar
ao fundo, o alfredo, ampara a manga com o bordão, impedindo que as correntes de norte a arrastem.
(torreira; companha do marco; 2013)
dos meus
algures terá havido um começo
um instante inicial em que
não sei como nem porquê
o primeiro arribou
terá encontrado meios de vida
pão para a fome e tecto ergueu
desconheço-lhe o nome
como quase todos os que
fundas raízes buscam
na vã procura do início
ser hoje aqui
é sempre ser o primeiro
ou não ser
mais do que a continuação
recuso ser mais um
mesmo se
podendo ser o último
as mãos
regresso sempre às mãos
às mãos e ao peso
que sobre elas
tudo
ao pão suado salgado
sofrido esmifrado
aos braços ferramenta
aos escravos da fome
dos filhos do hoje
do manhã do nunca
do sonho
do desespero
da esperança
regresso sempre às mãos
nem sempre
vazias
(torreira; companha do marco; 2012)
quantos homens são
um homem?
não há azinheiras
à beira mar
nem se ouve o cante
de mais ao sul
a solidão morre na areia
sem outra voz
que a do homem
da corda
enterram-se os pés
pesado o fardo
traiçoeiro o caminho
mas um homem
um homem
quando deixa de o ser?
(torreira; companha do marco; 2012)