politica no mar : esperar que o nevoeiro passe para começar a trabalhar
política da terra; espalhar nevoeiro e esperar que tudo passe
o abraço
desenhar as palavras
à altura da vaga vencida
será tarefa árdua
chegar onde estes homens
dizer deles o que
sem saber coo chegar até
escaldante como a areia
o pensar ser
morrer na praia é desejo
viver no mar é urgente
o abraço
(torreira; companha do marco; 2014)
escorregar pelos dias
deitado no chão herdado
imóvel
quase não vivo
quase
tão fácil não ser
tão fácil o sim a todos
tão cómodo
sentado na soleira da porta
qual gato à espera da festa
que festa poderá haver
nunca se sabe
os mortos agradam a todos
porque estão
e tu?
(torreira; companha do marco; 2012)
fizeram a escola sentados
nos bancos de areia rente ao mar
aprenderam cedo a força das ondas
o gume afiado do norte pela madrugada
o salgado sabor dos dias amargos de pouco pão
a escrita que conhecem é sobre água
nem por isso efémera
que de geração em geração
de homem para homem
como se ontem fosse hoje e sempre
o mar é pauta onde ritmos e pausas
são marcados pelas notas das ondas
onde o maestro é o arrais
falo do mar
da música fora dos búzios
dos artistas
das companhas da xávega
bota que chega de palavras
(torreira; companha do marco; 2011)
traz no nome o início
a força de tudo poder ser
onde o mar e a areia
se encontram sem medos
numa fronteira breve
de espuma agonizante
em dias de haver mar
é ainda noite quando o arrais
e todos na praia à espera
ela mais um mais um mais
braços pernas corpo
conheço-lhe o riso
a linguagem franca das mulheres
que fazem vida do mar
a ternura com que fala dos filhos
a força com que compete com os homens
e vence o mais das vezes
cuida do dia
aurora
(torreira; companha do marco, 2014)
sem porto nem cais
areal onde varar
procurar na memória
nas imagens retidas
um poiso um lugar
barco sem terra
condenado ao mar
resta
esperar a onda
o instante exacto
largar
ganhar o longe
ser poiso de gaivotas cansadas
sorrir à espuma
o que há para além de mar?
(torreira; companha do marco; 2011)