o verão. o sol a pino. os sobreiros: muitos.
a terra amarela: tanta. um homem só: o chapéu,
o colete. mais solitário ainda: o burro. o pó
cega a garganta. caminhos de areia percorro.
no plano o vento morre cansado: tão longe.
o monte. cães lentos ladram, não mordem.
as casas brancas, sempre. o friso azul debroa.
o vermelho: bandeira. o horizonte a perder.
a serra. a vida arrasta-se: tanto calor. o gado
pasta erva rala, mato seco. rasteiros pinheiros
tortos morrem: o sal. sobre o mar as dunas, os
calhaus. a areia: muita. a gente: pouca. assim
o malhão.
assim o alentejo!
nesta imensidão árida só teu rosto me humedece
os lábios.

mais que poema. o alentejo. assim.
uma quase ribeira. um sobreiro companheiro de outros tantos à espera de ser despido. sete anos.e o tempo mais lento que o vento. e a toada melancólica que quase ouço. cancioneira:
“Vou-me embora, vou partir mas tenho esperança
de correr o mundo inteiro, quero ir
quero ver e conhecer rosa branca
e a vida do marinheiro sem dormir
E a vida do marinheiro branca flor
que anda lutando no mar com talento
adeus adeus minha mãe, meu amor
eu hei-de ir hei-de voltar com o tempo.”
Emociono-me. dos textos belos que tens.
beijote
O vento morre cansado… E do vento sul que agita o mar daqui, sempre tão calmo; e do nordeste que leva a maresia até mim. Nessas horas, quase sempre fim de tarde, o vento me traz um tempo longínquo. Às vezes choro – porque sinto saudade. Às vezes, rio – porque o momento me alegra. Entre a alegria e a saudade, há um intervalo de tempo que não sei definir. E sou tomado por uma sensação de que esse tempo nunca existiu. Apenas o inventei para tornar o presente mais suave. E, assim, o vento continua a embalar meus sonhos…
Sempre bom saborear tuas palavras, meu caro. E parabéns pelo blog – ando meio distante, mas não longe do coração… Abraços, Meira