do além tejo


o verão. o sol a pino. os sobreiros: muitos.

a terra amarela: tanta. um homem só: o chapéu,

o colete. mais solitário ainda: o burro. o pó

cega a garganta. caminhos de areia percorro.

no plano o vento morre cansado: tão longe.

o monte. cães lentos ladram, não mordem.

as casas brancas, sempre. o friso azul debroa.

o vermelho: bandeira. o horizonte a perder.

a serra. a vida arrasta-se: tanto calor. o gado

pasta erva rala, mato seco. rasteiros pinheiros

tortos morrem: o sal. sobre o mar as dunas, os

calhaus. a areia: muita. a gente: pouca. assim

o malhão.

assim o alentejo!

nesta imensidão árida só teu rosto me humedece

os lábios.

2 thoughts on “do além tejo

  1. mais que poema. o alentejo. assim.

    uma quase ribeira. um sobreiro companheiro de outros tantos à espera de ser despido. sete anos.e o tempo mais lento que o vento. e a toada melancólica que quase ouço. cancioneira:

    “Vou-me embora, vou partir mas tenho esperança
    de correr o mundo inteiro, quero ir
    quero ver e conhecer rosa branca
    e a vida do marinheiro sem dormir

    E a vida do marinheiro branca flor
    que anda lutando no mar com talento
    adeus adeus minha mãe, meu amor
    eu hei-de ir hei-de voltar com o tempo.”

    Emociono-me. dos textos belos que tens.

    beijote

  2. O vento morre cansado… E do vento sul que agita o mar daqui, sempre tão calmo; e do nordeste que leva a maresia até mim. Nessas horas, quase sempre fim de tarde, o vento me traz um tempo longínquo. Às vezes choro – porque sinto saudade. Às vezes, rio – porque o momento me alegra. Entre a alegria e a saudade, há um intervalo de tempo que não sei definir. E sou tomado por uma sensação de que esse tempo nunca existiu. Apenas o inventei para tornar o presente mais suave. E, assim, o vento continua a embalar meus sonhos…

    Sempre bom saborear tuas palavras, meu caro. E parabéns pelo blog – ando meio distante, mas não longe do coração… Abraços, Meira

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