postais da ria (35)
“A pátria onde Camões morreu de fome e onde todos enchem a barriga de Camões! (José de Almada Negreiros) “
pergunto-vos onde estou
e sei que sabeis que não sabeis
ou se o sabeis não o lamentais
não sei sequer se ainda sou
porque se o for já nada é como vedes
neste fragmento de tempo parado
diante dos olhos de quem para mim
ao ver-me se lembra de o ter sido
se em vida me não destes a mão
ao menos agora quando as forças me faltam
deixai que me recordem como fui
não há muito tempo um cartaz pedia
“não matem os moliceiros”
hoje agora aqui
apenas vos pedimos
“não matem a nossa memória”
(assinado: um moliceiro)
(murtosa; bico; 2009)