traz no nome o início
a força de tudo poder ser
onde o mar e a areia
se encontram sem medos
numa fronteira breve
de espuma agonizante
em dias de haver mar
é ainda noite quando o arrais
e todos na praia à espera
ela mais um mais um mais
braços pernas corpo
conheço-lhe o riso
a linguagem franca das mulheres
que fazem vida do mar
a ternura com que fala dos filhos
a força com que compete com os homens
e vence o mais das vezes
cuida do dia
aurora
(torreira; companha do marco, 2014)
o interior do café sta cruz, em janeiro, de acordo com o calendário de “galveias”
depois, muito depois dos homens, ficam alguns livros, muitas estórias e, por vezes, os nomes e imagens de alguns autores. ser efémero é ser humano, permanecer para além dos dias habitados é deixar obra.
com “galveias”, josé luís peixoto corre o sério risco de continuar a habitar esta coisa chamada vida, muito tempo depois de ter abandonado a casa que o acolheu, que nos acolhe. quando um livro nos dá prazer e trabalho, é um LIVRO. galveias é. o josé luís permanecerá.
fica aqui o registo possível da apresentação em coimbra, no café sta cruz, no dia 17 de outubro, de 2014 e um parágrafo de “galveias”, que me marcou pela beleza, simplicidade e trabalho de sentir que o josé luís consegue escrever assim.
“ANTES, COSTUMAVA GOSTAR DE SETEMBRO. Na sua lembrança, era um mês afável, que tratava os dias com uma cortesia fina, ligeiramente arcaica. Começava mais quente, a tocar em , agosto, e acabava mais fresco, pronto a dar a vez a outubro, sem escândalo, com a natureza preparada, sempre em respeito e lisura.”
José Luís Peixoto, in “Galveias“
clip 1
clip 2
clip 3
clip 4
o interior do café sta cruz, em setembro, de acordo com o calendário de “galveias”
(a propósito de “galveias”, o último do josé luis peixoto)
apetece-me não dizer nada
não juntar palavras
na tentativa de ao fazê-lo
dar algum sentido
a coisa nenhuma
não escrevo para
escrevo porque
estendo os braços sobre o tempo
abraço um nome
tantos nomes
um corpo
tantos corpos
a memória dos outros inscrita em mim
apetece-me não dizer nada
a leitura das grandes obras
deixa-me sempre um vazio
uma noção da pouca valia do que
por aqui vou deixando
sem pretensões
mas vou deixando